segunda-feira, 23 de setembro de 2024


23 de Setembro de 2024
CLÁUDIA LAITANO

Bye bye Brasil

Uma cópia estalando de nova de Bye Bye Brasil (1979) foi exibida há alguns dias em Nova York, dentro da programação do festival Isso É Brasil: Cinema According to L.C. Barreto Productions, que celebrou os 60 anos da empresa de produção cinematográfica dos Barretões com uma seleção de 13 filmes - de Vidas Secas (1963) a Flores Raras (2013), passando por Terra em Transe (1967) e Dona Flor e seus Dois Maridos (1976).

Esta foi a segunda vez em que assisti ao filme do Cacá Diegues no cinema. A primeira, por coincidência, foi também fora do Brasil, em 1986, quando eu passei uma temporada na Califórnia. Lembro de sair daquela sessão comentando empolgadamente o filme com uma amiga, em português, o que bastou para que um grupo de americanos nos abordasse com perguntas sobre o Brasil. Éramos muito jovens - eu, minha amiga e a democracia brasileira. 

Quanto mais a gente falava sobre a história recente do país, mais eu percebia o realismo fantástico daquela conversa sobre presidentes que morriam na véspera da posse, congelamento de preços, fiscal da inflação. Mas a sensação, minha e deles, saindo do cinema com a majestosa música do Chico Buarque ainda na cabeça, era de que o Brasil era um baita país legal, apesar dos problemas.

Quarenta e cinco anos dentro do futuro em relação à estreia do filme, o Brasil continua com muitos dos mesmos problemas (pobreza extrema, exploração predatória das pessoas e da natureza) - e ganhou outros que nem sequer eram sonhados naquela época (saem as antenas de TV, entra o satélite do Elon Musk). De maneira geral, Bye Bye Brasil envelheceu bem, mas, em 2024, é impossível ignorar a perspectiva "brancocêntrica" de um filme tão exuberantemente brasileiro. 

Andorinha (Príncipe Nabor), o único negro, entra mudo e sai calado, depois de passar o filme todo fazendo trabalho braçal para Lorde Cigano (José Wilker) e Salomé (Betty Faria). Os índios até falam, mas bebem Coca-Cola e parecem sem rumo. Na linguagem de hoje em dia, diria-se que falta agência a esses personagens.

Saí do cinema menos empolgada do que da primeira vez, confesso. Não porque o filme ficou datado, bem pelo contrário, mas porque tornou-se mais difícil contrabalançar o retrato crítico do Brasil profundo com aquele otimismo de base tão espontâneo nos primeiros anos pós-ditadura. Talvez seja a idade ou o espírito pessimista do tempo. Talvez seja pura nostalgia do nosso futuro do passado. 

CLÁUDIA LAITANO

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