09
de abril de 2015 | N° 18127
DAVID
COIMBRA
Um deputado, 21
assessores
Afuga
desabalada do deputado Jardel para as amenidades do Ceará não me causou
espanto. O que me causou espanto foi este naco da notícia:
“Jardel
demitiu 17 de seus 21 assessores”.
Diga,
por favor: por que um deputado estadual precisa de 21 assessores?
Há
55 deputados estaduais. O que significa que são mais de mil os funcionários que
os servem. Somados aos que estão lotados em outros departamentos da Assembleia,
o total salta bem a uns 1,5 mil empregados.
Não
são muitas as empresas que têm 1,5 mil pessoas na folha salarial.
Será
que não é demais?
É
assim que funciona a administração pública no Brasil: como uma grande e
benevolente agência de empregos. Em todos os âmbitos.
Por
que você acha que existem quase 40 ministérios no Brasil, três vezes mais do
que havia no governo Collor? Não é um exagero, para um país que está promovendo
economia? Por que não reduzir esse número ao menos pela metade?
Resposta:
porque, se isso fosse feito, muita gente ia perder o emprego. Os ministérios
existem para acochambrar aliados.
Pepe
Vargas tentava ser um secretário de Relações Institucionais (olha a secretaria
que criaram!), mas não se saiu bem. Não tem problema, vamos arrumar-lhe outro
cantinho, vamos acomodá-lo ali nos Direitos Humanos, que ele não vai incomodar.
Ninguém
pergunta se Pepe Vargas é o homem certo para os Direitos Humanos. Isso não
importa. O que importa é encaixar Pepe Vargas em algum ministério amigo.
Cada
ministério desses, cada secretaria, cada programa do governo tem seus chefetes
de gravata, seus assessores com seus iPads, suas donas Sheilas que atendem como
secretárias bilíngues, suas donas Saletes que servem o cafezinho, seus
motoristas Amarildos atrás dos seus bigodes, seus seguranças Paulões com seus
óculos escuros pendurados no nariz, cada qual em sua sala refrigerada,
refestelando as devidas e bem-remuneradas nádegas em sua cadeira almofadada,
diante de sua escrivaninha reluzente, que custou alguns milhares de reais, que
são pagos pelo cidadão brasileiro.
Pegue
esses dois grandes grupos de matriz paulista que se estapeiam pela Presidência
da República há 20 anos: o PT e o PSDB. Qual é a razão de existir dessas
organizações? Você acredita que alguma delas abdicaria de parte do poder para
deixar recursos e autonomia para os municípios, onde a vida das pessoas de fato
acontece, onde os problemas são sentidos e onde podem ser resolvidos com muito
mais facilidade?
É
claro que não. Porque a razão de existir deles é o poder, e ninguém renuncia ao
seu objetivo depois de atingi-lo. Ao contrário, uma vez atingido o objetivo,
isto é, uma vez vencida a eleição, eles trabalham para aumentar o próprio
poder.
Como?
Não é difícil. Quanto mais pessoas você emprega, mais pessoas ficam dependentes
de você. Quanto mais verbas são distribuídas para programas, ONGs, institutos e
movimentos de todo gênero, mais essas entidades se mobilizam para defendê-lo e
continuar recebendo o seu quinhão.
É o
poder pelo poder. Uma política parnasiana.
Aqui,
do norte do mundo, vejo as pessoas um pouco cansadas no Brasil. Aquela
indignação das manifestações de 15 de março parece arrefecer e duvido que se
repita no próximo domingo. Natural, as pessoas sabem que nada vai mudar. Assim,
elas tratam de cuidar das suas vidas da melhor forma possível. Com um pouco de
resignação. E com muito de cinismo.