10
de abril de 2015 | N° 18128
MOISÉS
MENDES
Multidões
A ciência
ainda vai nos levar aos anéis de Saturno num ônibus espacial da Carris, mas é
incapaz de criar um método seguro de contagem de multidões. Então, prepare-se:
domingo teremos mais uma polêmica sobre a multidão que invadirá a Avenida
Paulista em protesto contra o governo, o PT e tudo isso que está aí.
A
primeira passeata, no dia 15 de março, criou a controvérsia. A Polícia Militar
de São Paulo disse que 1 milhão foram à Paulista, e o Datafolha, da Folha de S.
Paulo, assegurou que eram 210 mil. Entre uma conta e outra, sumiram quase 800
mil pessoas, que podem fazer falta num novo protesto.
Eu
confiei e confio mais na conta da Folha de S. Paulo. Por quê? Porque sou
jornalista. Mas outros ficaram com a contagem do 1 milhão da Polícia Militar
tucana. A PM, dizem, sabe fazer cálculos melhor do que um instituto de
pesquisa.
Acompanhei
as análises da ombudsman da Folha, Vera Magalhães. Como ela avalia o próprio
jornal, ouviu a Redação, o Datafolha e especialistas e pediu mais informações à
PM. A PM não quis comentar mais o assunto. A polícia pitágoras fez suas
estimativas e sumiu na multidão como um arlequim no último baile de Carnaval.
É
obvio que a polícia superfaturou o número de manifestantes. E o Datafolha pode
ter subestimado um pouco o público. O que impressiona é que os especialistas
não têm um sistema confiável de calcular gente nas ruas.
A
conta da PM considera que cada metro quadrado comporta – de forma homogênea,
por quadras e quadras –, cinco pessoas andando numa passeata. É improvável. É
como imaginar sardinhas passeando dentro da lata e carregando faixas e
cartazes. Nem tucanos conseguem ficar espremidos em espaço tão pequeno, por
mais antipetistas que sejam.
De
qualquer forma, a passeata de domingo que vem enfrenta um desafio. Terá de ser
maior do que a do dia 15. Seus organizadores devem torcer para que os mesmos
soldados da PM que fizeram a primeira contagem estejam de plantão de novo. E, é
claro, que o Datafolha não seja tão rigoroso desta vez.
Eu
sigo o que aprendi na Gazeta de Alegrete e fico de novo com o Datafolha, que
não correria o risco de cometer um erro tão grosseiro. Entre a reputação da
Folha e a matemática da PM, estou com a primeira. Outros talvez prefiram a
estimativa da polícia. Cada um sabe das matemáticas que aprendeu na vida.