sábado, 2 de maio de 2015


02 de maio de 2015 | N° 18150
NILSON SOUZA

Vai dar bolo!

Escrevo antes de dormir, intrigado com o que ouvi à tarde de um colega que acompanha muito de perto a revolução tecnológica. Disse ele que já está em teste um algoritmo capaz de prever com exatidão o que será notícia amanhã, a partir do zum-zum-zum das redes sociais. Depois que consultei o preço de uma camiseta do Japão no Google e o uniforme da seleção nipônica passou a me perseguir por todos os sites que consulto, já não duvido de mais nada.

Algoritmo, decifra-me ou te devoro.

Decifro, depois de consultar a enciclopédia digital. É uma sequência de instruções que podem levar, às vezes automaticamente, à solução de um problema. Como a gente sempre pensa em computador quando imagina coisas que se resolvem sozinhas, os autores do conceito apressam-se a explicar que não se trata apenas de informática. Algoritmo, esclarecem, pode ser uma receita de bolo.

Consulto, então, minha esposa sobre o algoritmo do meu bolo preferido:

– Duas xícaras de farinha, duas xícaras de açúcar, quatro ovos e meia xícara de leite – me responde, sonolenta.

O resto eu sei, de tanto assistir à alquimia culinária, sempre com água na boca. Mistura-se tudo e leva-se ao forno pelo tempo necessário para criar aquela casquinha gostosa na cobertura. O cheiro que escapa durante o cozimento é uma verdadeira tortura, mas vale a pena acompanhar.

Esses ingredientes olfativos e emocionais, evidentemente, não fazem parte dos algoritmos utilizados na programação de computadores. Mas a definição serve: um algoritmo é uma sequência lógica de passos e instruções que devem ser seguidos para resolver um problema ou executar uma tarefa.

Não passa dia sem que um jovem pesquisador anuncie um algoritmo de futurologia, a partir da imensidão de dados existentes no multiverso das redes sociais. Tem até um que recolhe informações do Face e diz quando um namoro ou romance deve acabar. Ou seja: a coleta e a operação das informações obedecem à automaticidade da computação, mas o resultado interfere nas emoções.

Assustador isso, não?

Minha vacina contra essa tecnologia que ameaça namoros e profissões é um ceticismo adesista. Tomara que não vingue, mas, se vingar, a gente se adapta. Enquanto isso, prefiro seguir os meus instintos e prever a minha própria manchete para a manhã seguinte, no café da manhã:


– Vai dar bolo!