Jaime Cimenti
Dia das mães
Decididamente mudaram muito os
filhos, as mães e os dias das mães. No Brasil, foi Getúlio Vargas quem, em
1932, oficializou o segundo domingo de maio como a data das mamães. Diziam os
antigos que Getúlio era o pai dos pobres e alguns hilários daquele tempo diziam
que ele era, também, a mãe dos ricos. Brincadeira, não é? Coisa de brasileiro,
claro, imagina.
Pois não vou dizer que não tenho
saudade do tempo em que a mãe era a rainha do lar, andava com o avental todo
sujo de ovo e chinelo na mão botando bons costumes, moral na pensão e
disciplina na galera que teimasse em pisar na bola. Essa coisa de disciplina,
como se sabe, anda meio sumida. E, em mais de metade das casas brasileiras,
isso de pai, mãe e filhos, a tal da família tradicional, não existe mais,
segundo o IBGE.
Literalmente, melhor não chorar o
leite derramado. Nem adiantaria e nem é o caso. Os tempos são outros. As mães
atuais têm mil ocupações, trabalham fora, andam como polvos hipercinéticos, com
mil tentáculos, tentando cumprir agendas intermináveis. Creches, vizinhas
cuidadoras, papais, babás e vovós, quando possível, ajudam, mas a coisa não é
fácil, todo mundo sabe. Poucas conseguem ficar em casa cuidando dos filhos.
Muitas até preferem trabalhar fora, mesmo podendo ficar em casa. Opção de cada
uma. Há que respeitar.
Fiquei um pouco de cara com uma
pesquisa feita na Baixada Santista - zona do estado de São Paulo com PIB
parecido com Portugal e IDH altíssimos - sobre compras para o Dia das Mães.
Entre quinhentos pesquisados, 58,6% disseram que vão gastar até R$ 100,00 com o
presente e 30% comprarão presentes de R$ 100,00 a R$ 200,00. Sei lá, achei que
esses filhos da mãe abonados estão meio pão-duros, mas não quero falar muito.
Fico pensando se pesquisas em outros locais brasileiros teriam resultados diferentes,
especialmente se feitas com populações de menos poder aquisitivo.
Melhor nem pensar muito. Melhor
pensar que as mães curtem mais olhares de agradecimento, abraços, beijos,
cartões, palavras, lágrimas e outras preciosidades que só os filhos podem lhes
dar. Evidente que elas gostam desses presentes de pegar com as mãos, mas no
fundo elas gostam mais de ver que os filhos reconhecem, muitas vezes
silenciosos, o mar de coisas que elas fizeram, fazem e ainda farão por eles. E
pelos netos, bisnetos etc.
É isso. No Dia das Mães, além das
formalidades, das palavras de sempre, dos gestos de costume e tudo mais, sempre
pode pintar, mesmo para mães e filhos velhos, algum olhar diferente, alguma
coisa até engraçada, enfim, algo que, mesmo depois de décadas, não se sabia que
aconteceria. Se não acontecer, não tem importância. O que aconteceu no passado
já é mais do que suficiente para preencher os pensamentos presentes e fornecer
umas luzinhas para encarar o futuro.
a propósito...
Para encerrar, em homenagem a
todas as mães, vou deixar a palavra com uma pessoa que perdeu a mãe com apenas
três anos mas nos deixou estes versos imortais: "São três letras apenas/
As desse nome bendito/ Três letrinhas, nada mais.../ E nelas cabe o infinito/ E
palavra tão pequena - Confessam mesmo os ateus / És do tamanho do céu/ E apenas
menor do que Deus!" Pois o poema é de Mario Quintana. Sempre ele, poetando
cada vez melhor, deixando que a pátina do tempo pouse calmamente sobre a obra
que vai passando de geração em geração, sem conhecer final.