sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


Jaime Cimenti

Arte, humor e espionagem na Madrid pré-revolução

O romance Rinha de gatos - Madrid 1936, de Eduardo Mendoza, é mais um bom exemplo da vitalidade da literatura espanhola na atualidade. A obra mereceu o prestigiado Prêmio Planeta em 2010 e apresenta muita ação, arte, humor e espionagem, numa trama intensa e repleta de surpresas.

Eduardo Mendoza nasceu em Barcelona, em 1943, já publicou dezenas de livros e conta com mais de dois milhões de leitores espalhados pelo mundo. No Brasil, a Planeta, que publicou Rinha de gatos, já lançou, do mesmo autor, A assombrosa viagem de Pompônio Flato (2010) e O mistério da cripta amaldiçoada (2011).

Rinha de gatos é ambientado na Madrid de 1936 e com nada menos do que o genial pintor Diego Velázquez servindo de pretexto. Em um cenário politicamente tenso, o especialista em arte inglês Anthony Whitelands é contratado para ir à Espanha autenticar uma obra que pode ser do famoso pintor barroco.

O britânico chega a bordo de um trem, na primavera e, conforme o melancólico estrangeiro empreende sua visita por Madrid, com uma guerra civil prestes a explodir na cidade, suas atividades um tanto obscuras atraem a atenção de facções políticas opostas interessadas em se apoderar da pintura. Afinal, um Velázquez original poderia pagar uma enorme quantidade de armas e ajudar a vencer a guerra que se aproximava.

Anthony vai lidar, entre outros, com um charmoso fascista, José Antonio Primo de Rivera, amigo do dono do quadro. Ofertas de sexo de condessas ninfomaníacas, investidas de uma prostituta menor de idade, manipulações de espiões britânicos e alemães e até ameaças de um conspirador soviético estão embolados na mirabolante narrativa.

O protagonista inglês se sente em meio a uma rinha. Mas uma rinha de gatos. O início do romance é sóbrio, comedido, mas já carregado de suspense. Depois, a narrativa evolui para um desconcertante tom humorado. Aliás, subverter as expectativas dos leitores é marca registrada deste autor que, nesta obra, apresenta personagens excêntricos, casos amorosos complicados, conspiração política e a paixão pela obra de Diego Velázquez.

A missão do inglês em Madrid pode até mudar o curso da própria história da Espanha, e o olhar dele sobre o panorama político e cultural revela situações brilhantes e engraçadas. Todos parecem perseguir todos e a cidade parece uma grande armadilha. O final, adequadamente, é eletrizante. Editora Planeta, 296 páginas, tradução de Clene Salles,