segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


LULI RADFAHRER

Cumpra as promessas de Ano-Novo

Apps para smartphone podem dar uma força para quem realmente quer mudar de hábitos

Todo fim de ano é a mesma ladainha. Todos prometem comer melhor, parar de fumar, dormir melhor, fazer mais exercícios, ler mais, ter maior autocontrole e se estressar menos no ano que se aproxima. As promessas, no entanto, dificilmente sobrevivem ao cotidiano.

Mudanças de estilo de vida costumam ser lentas e demandar acompanhamento diário. Acabadas as férias é difícil ter disposição, tempo ou paciência para fazer registros diários ou contar calorias, e as boas intenções acabam esquecidas.

Mas novas tecnologias prometem facilitar a vida de quem pretende mudá-la. Equipamentos que até há pouco tempo estavam restritos a UTIs hoje são portáteis e baratos.

Associados a bases de dados e algoritmos complexos, sensores embutidos em smartphones, pulseiras, relógios ou fitas elásticas presas ao corpo permitem o registro e o compartilhamento de atividades cotidianas que até há pouco eram ignoradas.

Aplicativos dignos de ficção científica calculam a frequência cardíaca de repouso a partir de uma foto de celular. Bombinhas de asma usam GPS para evitar áreas de risco. Cápsulas com sensores medem a digestão. Protótipos tentam adivinhar as emoções de seus usuários baseados em suas variações de movimento e padrões de digitação.

A automensuração não é uma prática nova. Atletas, pessoas com alergias e portadores de doenças crônicas monitoram seus hábitos há décadas. A diferença dessas novas tecnologias está na facilidade da coleta e na abrangência da análise.

Hoje, com um smartphone e aplicativos baratos, qualquer um pode medir qualidade do sono, atividade física, peso e gordura corporal, calorias das refeições, passos caminhados, andares subidos a pé, consumo de álcool, pressão, oxigenação e níveis de açúcar do sangue.

Mesmo que ainda sejam imprecisos, esses aparelhos têm a vantagem de estar sempre disponíveis. Ao facilitar a medição, registrar o progresso e estimular seu compartilhamento via redes sociais, eles transformam a vontade de mudar em um jogo, um compromisso público com o apoio dos amigos.

Em novas redes sociais, como PatientsLikeMe e CureTogether, seus usuários deixam de lado a privacidade para buscar possíveis respostas que melhorem sua situação ou tragam algum conforto. Se por um lado elas estimulam o autoconhecimento e a mudança, é inegável que também podem levar à automedicação ou a soluções caseiras inócuas ou perigosas.

Mesmo que seja um placebo distante da verdadeira revolução médica, a mensuração ajuda a potencializar as descobertas científicas na prevenção de doenças, enquanto a engenharia genética e a nanotecnologia não ganham as prateleiras das farmácias. É só imaginar a riqueza de dados que pode surgir quando usuários de redes sociais passarem a compartilhar a qualidade do sono ou o progresso da dieta.

A área é nova e deve ser examinada com cuidado. Por mais que os benefícios coletivos valham a pena, a exposição individual extrema dos históricos médicos ou terapêuticos pode restringir acessos e causar diversos constrangimentos a seus usuários. Novíssima fronteira da privacidade, os dados médicos só deverão ser comercializados quando os benefícios superarem os custos.

folha@luli.com.br