sexta-feira, 16 de janeiro de 2015


16 de janeiro de 2015 | N° 18044
MARCOS PIANGERS

Cabelo ao vento, gente jovem reunida

Não sei se a Janis Joplin agora é professora do Ensino Fundamental, mas minha filha e todos os amigos dela, aparentemente, viraram hippies. Passam horas reunidos em rodinhas, todos eles com seus equipamentos, cada um produzindo sua variedade de pulseirinhas de elástico colorido. Passam horas na confecção e depois tentam vender o artesanato para pobres adultos, que, desavisados, pagam dois, até três reais por uma pulseira que muitas vezes aperta o pulso. A minha já pedi na cor roxa pra minha filha, que é pra combinar com a gangrena que vai causar.

Não quero ser saudosista, mas na minha época se brincava de estilingue, zarabatana, brincadeiras saudáveis a todos, menos ao Otávio, que uma vez quase ficou cego. Mas subíamos em árvores, explorávamos construções abandonadas, tudo muito divertido, menos pro Otávio, que pisou num prego uma vez e teve que levar a antitetânica. Bons tempos aqueles em que jogávamos futebol o dia todo, menos o Otávio, que sempre torcia o pé.

E não vamos muito longe. Até bem pouco tempo, as crianças jogavam jogos saudáveis, como o Banco Imobiliário, que ensinava valores como a necessidade de poupar o dinheiro, comprar imóveis quando tiver oportunidade e humilhar os amigos mais pobres. Ou mesmo esses jogos de videogame, onde aprendíamos a dar tiros em pessoas no meio da rua e a roubar carros e destruí-los batendo no carro da polícia. Aquilo é que era um passatempo saudável.

Mas essa nova geração está mesmo perdida, fazendo pulseirinha o dia todo e vendendo para pobres adultos desavisados. Em cada residência agora temos um H. Stern da bijuteria infantil, uma Tiffany & Co das borrachas coloridas. E onde estão os carrinhos de rolimã? Onde estão as pipas com cerol? Onde estão as brincadeiras com ovos que sempre acertavam aquela senhora do 502, para a explosão de risadas de toda a criançada?


Menos do Otávio, que sempre era pego e ficava de castigo.