quinta-feira, 29 de janeiro de 2015


29 de janeiro de 2015 | N° 18057
DAVID COIMBRA

O fim de São Paulo

Um dia São Paulo iria acabar. Isso era óbvio. Bem... falta pouco. Quem vai querer viver num lugar em que os habitantes ficam cinco dias por semana sem água e cinco horas por dia presos em engarrafamentos?

Digo que era óbvio o fim de São Paulo porque essa é uma cidade pouco inteligente. Uma cidade sem estrelas. Uma cidade sem horizonte. À noite, você olha para o céu e vê uma capa cinza-chumbo. De manhã, você abre a janela e seu olhar esbarra numa parede. São Paulo não foi feita para as pessoas, nem foi feita para os automóveis. Para que foi feita São Paulo? Brasília, outra cidade pouco inteligente, por outros motivos, pelo menos foi construída para os automóveis. São Paulo, eles foram montando de improviso. A força da grana foi erguendo e destruindo coisas belas aleatoriamente, sem planejamento.

Agora a falta de planejamento está cobrando a conta.

São Paulo tornou-se o inferno, mas isso não quer dizer que Porto Alegre seja o paraíso. Porto Alegre padece dos mesmos males de São Paulo, só que sem dinheiro. Sem a força da grana, as coisas belas são destruídas e, em seu lugar, são erguidas as de mau gosto.

Numa cidade que valoriza as pessoas, o tamanho e a arquitetura dos prédios, por exemplo, são controlados com rigor e critério. Vou citar dois pequenos exemplos: o Menino Deus e o Moinhos de Vento são bairros com evidente vocação residencial, e também para o comércio de rua e para a vida noturna amena, mas, a despeito dos protestos dos moradores, alguns edifícios de altura e arquitetura grotescas estão se levantando do chão já há anos, e vão continuar se levantando, e vão desfigurar ambas as regiões.

O planejamento urbanístico preserva as melhores características de uma cidade, preserva o meio ambiente e, por consequência, preserva os seres humanos. A falta de planejamento, como prova a iminente extinção de São Paulo, não apenas destrói as coisas belas erguidas pelo homem: destrói a vida ao redor.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, foi um ministro da Educação volta e meia equivocado, mas ele tem boas ideias para a cidade, pelo que li em várias de suas entrevistas. Não estou falando das ciclovias que ele mandou pintar nas avenidas – ciclovias são algo positivo, mas não passam de paliativo. Na questão do trânsito, especificamente, Haddad quer transformar o transporte público paulistano em um sistema exemplar, com internet, ar-condicionado, conforto e rapidez em ônibus e trens. Em contrapartida, pretende taxar fortemente a circulação dos carros particulares.

Perfeito.

Em Porto Alegre, a prefeitura deveria cobrar uns R$ 10 ou R$ 20 a hora pelo estacionamento em vias públicas e reverter esses recursos para a qualidade dos ônibus, dos lotações e dos trens.


Porto Alegre ainda pode se salvar. São Paulo, mesmo com as boas intenções do seu prefeito, talvez não.