sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Jaime Cimenti

Não te enreda

Lá pelos anos 60 do século passado,  dizia o grande McLuhan, pensador e estudioso de comunicação e dos efeitos de meios eletrônicos na sociedade, que o mundo era uma espécie de aldeia global. Hoje, com os meios de informação cada vez mais sofisticados e tecnológicos e com as onipresentes redes sociais, dá para dizer que o planeta se tornou uma espécie de pracinha global, com todo mundo se cruzando, se “pechando”, falando tudo, a todo momento, de qualquer parte, sem pensar muito. 

A diferença é que a pracinha agora é virtual e, antes, o contato era físico, presencial. Essa diferença pesa. De longe, sozinha nos “space-webs”, a galera não reflete muito antes de falar e pega pesado, reage depressa demais. É mal.

Claro que os novos instrumentos de tecnologia da informação trouxeram muitas vantagens e possibilitam muita coisa boa para as pessoas e o mundo. Particularmente, as redes sociais causam impactos, por vezes, inimaginados na vida individual, social e política. Os protestos de 2013 no Brasil, por exemplo, mostram como os meios eletrônicos podem influir em movimentos sociais. Para o bem e para o mal, diga-se de passagem.

No jornalismo, nem é preciso falar muito sobre o impacto da comunicação eletrônica. Os números sobre mídia impressa e outros indicadores falam por si. O dia a dia dos jornalistas se modificou e não dá nem para pensar em jornalismo sem a web e tudo mais. Claro que ir para a rua, usar os cinco sentidos e os outros é vital para os repórteres, especialmente, mas como fazer isso com frequência?

As redes sociais têm seu lado jornal do Interior: fotos de bebês, netos, bisnetos, pais, vovôs, bisavôs, tataravôs, crianças, jovens, adolescentes, pessoas com 120 anos. Fotos de recém-nascidos, batizados, formaturas, doentes, doentes terminais, sarados, cirurgias, falecidos, caixões de defunto, casamentos, tudo.  

Há quem poste foto do pudim ou do cachorro-quente que está traçando ou quem coloque dezenas, centenas, milhares de fotos suas, os selfies, tipo um Van Gogh mais enlouquecido ainda, com mil auto-retratos.  Uns abusam dos braggies, as fotinhos para causar inveja, tipo estou na praia de Ipanema, no bar do Fasano e tu estás ralando na sala de trabalho. Os braggies chegaram para ficar.

Daqui a pouco estarão aí - se já não estão -, os fuck-yourselfies, para doce deleite dos exibidos, quase todo mundo e dos voyeurs eletrônicos - quase todo mundo. Aliás, cabe aqui ressaltar que o professor-doutor da UFSP (Universidade Ficcional de São Paulo), José Simão, o Macaco Simão, especialista em comportamentos humanos, ensinou, em sua imperdível e conspícua coluna no Jornal do Comércio, que, agora, além dos paus de selfie, existem os paus de myself. Em sociedade, tudo se sabe, diziam os velhos colunistas. Beleza, por aí.

É isso, navegantes boquirrotos, melhor usar com moderação a web e não se enredar demais nas redes sociais. Não te esquece que, da rede ou da coluna social, tu podes ir para a coluna policial. Te cuida!

A propósito...

Deu na mídia que o Facebook vira prova em mais de 30% dos casos de divórcio. A pesquisa foi feita entre agências de advocacia da Inglaterra. Pois é, a criação do Mark Zuckerberg mostra a verdade (ou a mentira) sobre a vida e o comportamento das pessoas, com quem andam, quem estão pegando, onde vão e quanto gastam.


A pensão pode ficar ainda mais salgada. E não é só no FB que o bicho pega. No Twitter, WhatsApp, Instagram e no Google as informações circulam descontroladas. É Florida! Melhor usar a etiqueta, a ética, caldo de galinha e cautela na rede. Caiu na rede é peixe, dizia o Long Donga, um amigo meu, na Cidade Baixa, na madrugada.