quinta-feira, 29 de janeiro de 2015


29 de janeiro de 2015 | N° 18057
ARTIGOS - JOSÉ ALBERTO WENZEL*

REAÇÃO EM CADEIA

Com menos água, diminui a produção de energia, estabelecendo-se a cadeia do abalroamento. Altas temperaturas evaporam ainda mais água dos solos e plantas, com reflexos diretos sobre agricultura, indústria, comércio e serviços. Quadro visibilizado por torneiras secas, mas de moldura muito mais abrangente. Quando se mexe na sanga, interfere-se no mar.

Constrangedoramente, como humanos da virtualidade tecnológica, nos assemelhamos aos nossos ancestrais, que tinham por urgência a satisfação das suas necessidades primordiais: água, abrigo e alimento. Seu atendimento dependia essencialmente da natureza. Observando, os animais sabiam onde encontrar fontes e córregos. Assim como, então, pode faltar tudo, menos água. Indubitavelmente ainda nos mantemos como corpos hídricos movidos a energia solar, inseridos na cadeia da fotossíntese.

Quando definham gigantes como os reservatórios da Cantareira e de Paraibuna, a sequên- cia natural dos eventos tende à aceleração incontrolada, uma vez que não são meramente os depósitos em si que secam, mas revelam as condições das suas bacias hidrográficas.

Se sabe que o leito de um rio ou o armazenamento de água não dependem exclusivamente de chuvas, que por sua vez resultam de uma série de fatores concatenados.

Quando as florestas viram campos, lavouras e cinza, quando o petróleo que levou milhões de anos para se formar no subsolo é jogado em poucas décadas para a atmosfera, quando as concentrações urbanas modificam as densidades da superfície terrestre e impermeabilizam os terrenos e, quando imensas massas de água derretidas das geleiras se misturam a correntes marinhas; quando a tudo isso se somar as pequenas inconformidades quotidianas de cada um de nós, precisamos perguntar: “Até quando?”.


*GEÓLOGO