sexta-feira, 16 de janeiro de 2015


16 de janeiro de 2015 | N° 18044
MOISÉS MENDES

Bueiros

Nestor Cerveró deve ter bem guardados os milhões que ganhou de propina das empreiteiras da Petrobras. Andava solto, passeou, fez compras em Roma. Mas tentou sacar uns trocados no banco, coisa de menos de R$ 600 mil, e foi preso pela Polícia Federal.

Pilantras de qualquer porte, mafiosos e tiranos muitas vezes são pegos por coisas insignificantes ou por gestos desastrados. Al Capone caiu porque sonegava impostos. Collor foi mandado embora com a descoberta do rolo da compra de uma Fiat Elba.

Saddam foi enforcado porque se escondeu num buraco muito ralo. Kadafi acabou degolado por tentar se refugiar num bueiro de estrada.

Imagina-se que gente desse calibre tenha esquemas perfeitos de fuga e exílio. Que disponha de uma vasta rede de proteção, com planejamento impecável e o suporte de comparsas profissionais. E você acha que um grandão nunca estará envolvido na compra de um Chevette. Não é bem assim. Eles tropeçam na própria chinelagem.

Cerveró, por exemplo, só queria pegar um dinheirinho e transferir imóveis para os parentes. Foi flagrado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf. Tem fortunas bem guardadas, mas inventou de raspar contas miúdas para os gastos do dia a dia.

Será que um desses empreiteiros corruptores também será pego, na hora da verdade, por causa de uma bobagem ou porque não tem um buraco para se enfiar? O que poderia vir a ser a Fiat Elba desses caras? E quem, se tiver que fugir, pode contar com um bom bueiro?

Quantos desses empreiteiros não devem estar com o mesmo sentimento do Ricardo III de Shakespeare à procura de um cavalo, apenas um cavalo, para continuar lutando ou para poder fugir.

Eles sabem que, dependendo da situação, fogem os cavalos, as mulas, os ratos. Ou será que os empreiteiros escaparão de novo, nessa rede de labirintos, chicanas e bueiros da Justiça a que uns poucos têm acesso? Empreiteiro é quem mais entende de bueiro.

Hique Gomez abre hoje, pela 29ª vez, a temporada do ano do Theatro São Pedro. Pela primeira vez sem o Nico Nicolaiewsky.


Tãn Tãngo terá Letícia Sabatella cantando. O show (hoje, às 21h, e amanhã e domingo, às 20h) é bonito demais. E isso que, quando vi, não teve a Letícia.