segunda-feira, 13 de abril de 2020


13 DE ABRIL DE 2020
CORONAVÍRUS

"Tenho colegas que não folgam há 30 dias"


Em 20 anos trabalhando sobre uma motocicleta, a motogirl Ana Paula de Moraes, 40 anos, não recorda de outro período em que precisou trabalhar tantas horas. Ela vê a pandemia como principal agente na mudança da rotina. A partir do distanciamento social, relata, os pedidos de motofrete passaram à frente das solicitações de restaurantes.

Gestora numa cooperativa que reúne 400 motoboys autônomos na Capital, Ana Paula viu a dedicação diária ao trabalho saltar de oito horas para até 16 horas.

E surgiram clientes que, antes, não tinham o serviço, como uma banca do Mercado Público onde hoje ela faz 50 entregas por dia. Lojas de tecnologia também passaram a vender a distância para quem atua em home office. E os restaurantes mudaram o horário de atendimento, observa Ana Paula. Antes da pandemia, os pedidos eram noturnos. Agora, são ao meio-dia e quase não há solicitações de entrega de comida no período da noite.

- A minha rotina de vida mudou bastante. Trabalhamos com uma folga por semana, mas tem ocorrido cada vez mais de trabalharmos também na folga para cobrirmos escalas. Tenho colegas que não folgam há 30 dias - revela.

No início de março, Ana Paula voltou de uma viagem ao Rio de Janeiro com febre e indícios de gripe. Sem fazer exames, isolou-se por 15 dias em casa. Os sintomas passaram, e ela retornou ao trabalho com ainda mais cuidados. No bagageiro não faltam máscaras e álcool gel, distribuído pela cooperativa. Também aprendeu a lidar com os novos formatos de atendimento aos clientes:

- O pessoal está com muito medo. Principalmente, os mais idosos. Deixam uma bacia ou um plástico no chão para largarmos a sacola.

Mãe de três filhos - Eduardo, 15 anos, Ana Elisa, 19, e Sarana, 24 -, e avó de Ana Luíza, dois anos, filha de Ana Elisa, Ana Paula mora com o filho mais novo. Além da alteração na rotina de trabalho, a vida pessoal também ganhou novos rituais antes de entrar em casa. Caneleiras, colete reflexivo, botas e a jaqueta são pendurados do lado de fora. Devido ao tempo escasso de folga, a motogirl prefere não lavar os equipamentos porque não secarão até o outro dia.

- O resto da roupa é retirado no banheiro e já lavo no mesmo dia. Meu filho já sabe que não pode chegar perto das minhas roupas de trabalho - comenta.

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