terça-feira, 14 de abril de 2020


14 DE ABRIL DE 2020
INFORME ESPECIAL

Os profissionais de saúde e o heroísmo desnecessário

Legiões de heróis emergem das sombras do coronavírus. Gente que vai além, que arrisca a própria vida para salvar outras. Na linha de frente, despontam os profissionais de saúde. Expostos diretamente aos riscos de contágio, cumprem jornadas exaustivas de trabalho, tomando decisões vitais sobre uma doença cercada de muitas perguntas e de raras respostas. Mas existe uma dimensão desnecessária nesse heroísmo.

Espocam de vários cantos do Brasil denúncias de falta de equipamentos de proteção individual para médicos, auxiliares de enfermagem e enfermeiros. Não só para eles. Evoco esse contingente como símbolo dos demais. E não é só no Brasil, mas em várias partes do mundo. É essa a dimensão cruel e desnecessária do heroísmo. Bem-vindos a bordo.

"Em caso de despressurização da cabine, máscaras cairão automaticamente. Primeiro, coloque a sua e só depois, em caso de necessidade, ajude outras pessoas". Toda vez que alguém viaja de avião, ouve a frase. Ela faz todo o sentido. Para cuidar dos outros, é preciso primeiro cuidar de si. Não é egoísmo. Muito antes pelo contrário. Policiais, bombeiros, pilotos de avião e médicos precisam estar bem equipados e bem treinados para serem mais eficientes. Heroísmo é outra coisa. E não é uma obrigação, mas sim uma escolha ou uma imposição do destino.

Entre tantas necessidades, cuidar de quem cuida da vida deveria estar no topo da lista. É tão importante, que vem antes da prioridade, que é atender os doentes. O Brasil é gigante e tem carências de infraestrutura e logística. Além disso, a pressão econômica dos países mais ricos suga a produção de máscaras, luvas e outros acessórios. Os preços dispararam e os fornecedores de alguns itens são poucos. Justamente por isso, o governo do Brasil - especialmente seu presidente - deveria usar a energia que desperdiça com bravatas e prescrições açodadas para cuidar de quem cuida. Que os nossos heróis fiquem todos vivos, para que possam receber o aplauso e o carinho merecidos pelos atos de superação e bravura diante dos quais não havia opção além do risco.

TULIO MILMAN

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