07 de maio de 2015 | N° 18155
CARLOS GERBASE
O
PRIMEIRO FILME
Para o poeta, é o primeiro verso. Para o ficcionista, o
primeiro conto. Para o pintor, o primeiro quadro. Para o dramaturgo, a primeira
peça. Para o apaixonado, o primeiro beijo. Ninguém garante que o verso, o
conto, o quadro, a peça e o beijo – ao contrário do que a publicidade nos disse
sobre o primeiro sutiã – serão inesquecíveis. Algumas vezes, pelo contrário,
será melhor apagar da memória assim que possível, pois as primeiras experiências
podem ser tão sublimes quanto traumáticas. Mas aquele primeiro passo, mesmo que
trôpego, visto da perspectiva de quem já caminhou um pouco, será sempre
importante.
Para um cineasta, o primeiro filme costuma ser uma prova de
fogo. Em primeiro lugar, porque a linguagem cinematográfica parece ser uma
espécie de segredo compartilhado apenas por seres especiais. O ensino do cinema
nas escolas e universidades é fato recente no Rio Grande do Sul – uns 10 anos
–, enquanto versos, contos, quadros e peças fazem parte há séculos dos
currículos. E os beijos, é claro, há alguns milênios, como atividade
extracurricular.
Em segundo lugar, porque ninguém faz um filme sozinho.
Cinema é atividade coletiva, feita em equipe, e é muito difícil fazer várias
pessoas concordarem com a melhor maneira de filmar um beijo, escolher quem
beija e decidir se o beijo ficou bom ou deve ser repetido. Aliás, beijos,
especialmente os mais apaixonados, são dificílimos de filmar. Os beijadores
aproximam demais seus rostos, escondem-se da câmera e exigem que o diretor
encontre uma brecha para objetiva.
Apesar de todas essas dificuldades, cada vez mais gente quer
fazer seu primeiro filme, pois as ferramentas básicas necessárias – câmera,
microfone e computador pra edição – são cada vez mais baratas e fáceis de usar.
Para estes aspirantes a cineasta que hoje estão no Ensino
Médio, foram criados um projeto educacional e um festival (neste ano, em sua
segunda edição), ambos chamados de Primeiro Filme (www.primeirofilme.com.br). A
ideia é dar um apoio didático e, logo depois, proporcionar a exibição online
dos inscritos, de modo que os filmes completem sua maior missão existencial:
chegar ao espectador e à espectadora. Que, provavelmente, dirão que beijam
muito melhor.