07 de maio de 2015 | N° 18155
DAVID COIMBRA
Bom dia
Algumas pessoas postam assim no Facebook:
“Bom dia!”.
Só isso, nada mais. Várias dentre essas pessoas, aliás, não
postam outra coisa em nenhuma outra oportunidade do dia, da semana ou do mês.
Todos os posts delas são tão somente um:
“Bom dia!”
Acho bonito isso. Tem algo de reconfortante em você abrir o
computador e ver ali escrito “bom dia”, apenas bom dia, sem interesses
subjacentes, sem nenhuma outra observação. Não é uma pergunta, não é um texto
reflexivo, não é alguém tentando ser engraçado, nem alguém revoltado, ou
querendo lhe agradar.
É apenas uma pessoa desejando que outras pessoas tenham um
bom dia. E o desejador de bom dia não está desejando bom dia para mim,
especificamente. Está desejando bom dia para todos os seus amigos, para os desconhecidos,
para o mundo. É como se abrisse as janelas do quarto de par em par, de manhã
cedo, e gritasse:
– Bom dia, Terra! Bom dia, árvores! Bom dia, céu! Bom dia,
sol! Bom dia, passarinhos! Bom dia, cachorros! Bom dia, elefantes! Bom dia a
todos!
Não é uma simpatia?
Eis um dos bons serviços das redes sociais: mostrar o lado
amigável das pessoas.
Os americanos têm esse hábito de distribuir simpatia ao
desconhecido. Você cruza por um americano na calçada e, se olhar nos seus
olhos, é bem provável que ele irá sorrir e cumprimentá-lo.
Está certo, moro numa cidade tipicamente americana, um
pequeno distrito de Boston, nada a ver com cidades construídas para consumo
externo, como Miami e Nova York.
Nova York é diferente de tudo, no mundo. Como vivo perto
dela e é muito fácil e barato ir até lá, minha relação com a Big Apple é a
mesma que tinha com Gramado, quando estava em Porto Alegre. Quer dizer: é uma
viagem de prazer rotineira. Só que, mesmo tão próxima e quase íntima, Nova York
não cessa de me surpreender. As roupas das mulheres, por exemplo. Em alguns
lugares de Nova York, você vê mulheres vestidas como se estivessem em cima de
uma passarela. Nas cidades, digamos, mais ortodoxas dos Estados Unidos, não. Em
geral, as americanas se vestem com simplicidade desconcertante. Outro dia, uma
italiana reclamou:
– Aqui me visto como me vestiria para andar nas montanhas,
se estivesse na Itália.
Nunca vi italianas passeando pelas montanhas. Gostaria. Na
falta de, descrevo as roupas que as americanas usam nas ruas como as mesmas que
uma brasileira vestiria no recôndito do lar. Com um adendo: agora, no fim do
inverno, elas saem por aí em minissaias e shorts minúsculos, bem minúsculos
mesmo, numa compreensível ânsia de expor o corpo desbotado ao sol.
Essa forma relaxada e confortável de se vestir e esse hábito
de tratar o transeunte como vizinho fazem bem. Em pouco tempo, você deixa de
ligar para as suas roupas ou as dos outros e, quando passa por alguém, também
sorri e cumprimenta. É contagiante. Por isso, saúdo e aplaudo as pessoas que
usam o Facebook só para desejar bom dia. Os dias tornam-se melhores graças a
elas.