08 de maio de 2015 | N°
18156
MOISÉS MENDES
O ladrão avulso
Imagine que, ao final dos
processos da Lava-Jato na Justiça, você tenha certeza de que sabe quase tudo
sobre a corrupção na Petrobras – os nomes de todos os diretores ladrões, os
empreiteiros corruptores, os políticos.
Não restará nenhuma dúvida sobre
a máfia do superfaturamento de obras, que transformou servidores da estatal em
mandaletes e financiou campanhas com dinheiro sujo, inclusive o liberado com o
carimbo de “doação legal”.
Você saberá como PT, PP e PMDB
viciaram-se no esquema. E como políticos do PSDB, do PSB, do DEM e outros
recebiam dinheiro farto, “mas sob o manto da lei”. E terá conhecimento
detalhado das penas impostas – prisão, ou prestação de serviços comunitários, ou
doação de cestas básicas.
Mas tudo o que soubermos da
Lava-Jato estará incompleto se a Polícia Federal, o Ministério Público e a
Justiça forem incapazes de esclarecer o caso Pedro Barusco. Se não desvendar o
mistério Barusco, a Lava- Jato terá sido enrolada pelo mais talentoso farsante
do esquema.
Se Pedro Barusco for considerado,
até o fim do processo, o único ladrão avulso, todos os envolvidos na
investigação e no julgamento do caso terão de admitir que comeram pela mão dos
delatores. Teremos então de chamar o Batman para desmascarar o Coringa da
Petrobras.
O ex-gerentinho que arrecadou US$
97 milhões é o mais poderoso de todos os personagens da Lava-Jato.
Tombaram os empreiteiros, os
presidentes e diretores da Petrobras e os políticos. Mas Barusco, impávido,
solto, ganhou um pedestal exclusivo, é o único ladrão avulso.
Confessou à Justiça e à CPI que
roubava desde 1997 ou 1998, durante o governo do PSDB. Parte do dinheiro já foi
recambiada da Suíça. E ele continua a dizer que agia sozinho.
Pilantras sempre atuam em
quadrilhas, nos governos, nas empresas, nas ruas e agora na internet. Barusco
não. Ele começou, no tempo dos tucanos, a trajetória única de ladrão avulso na
Petrobras.
Se ao fim da Lava-Jato prevalecer
a versão de que o ninho dos US$ 97 milhões era chocado apenas por Barusco, uma
ave de terceira linha, algo terá dado muito errado – ou, dependendo do ponto de
vista, muito certo.