sábado, 22 de dezembro de 2012



22 de dezembro de 2012 | N° 17291
NILSON SOUZA

A palavra mágica

Dia desses, caí na tentação de participar de um concurso literário típico dos novos tempos – reescrever em 140 caracteres (o limite raso da comunicação moderna) uma das mais belas histórias da literatura universal, As Mil e Uma Noites. Como sou um amante da síntese e da objetividade, não resisti.

Meu resumo da encantadora aventura de Sherazade não ficou nem entre os 20 microcontos selecionados pelo público, vários deles ornamentados pelo humor de seus autores e por outros recursos de maior apelo popular. Ainda assim, ouso compartilhá-lo com meus leitores sabatinos.

Escrevi: “Era uma vez uma mulher capaz de seduzir com seu encanto e com sua astúcia o mais poderoso dos homens. Essa história não teve e nem terá fim”. Depois, fiquei pensando: será esta a mais bela história de todos os tempos? Politicamente correta ela não é, pois seus personagens são esposas infiéis, monarcas assassinos e uma princesa pra lá de esperta.

Mas a coletânea de 291 histórias – e não 1001, como se poderia pensar – tem maravilhas do imaginário oriental e uma mensagem universal: as palavras transformam. Basta observar que, na noite interminável dos relatos interrompidos, o rancor se transformou em curiosidade e a curiosidade virou amor. Tudo por conta de contos bem contados.

Mas há outras narrativas mais belas, certamente. Para os cristãos, por exemplo, não existe história mais bonita do que a do Natal – embora a tenham transformado num espetáculo insano de consumo que faz lembrar um capítulo constrangedor da parábola sagrada, aquele que trata da expulsão dos vendilhões do templo.

Fiquemos, porém, com o extrato mais significativo do relato bíblico. Aí vai o meu resumo, em 140 caracteres, pois agora estou começando a gostar disso: “Dois mil anos depois, o menino que nasceu num estábulo e virou Deus ainda tenta plantar no coração dos homens a semente do amor ao próximo”.

É bem difícil isso, principalmente nesta época de correria desenfreada, trânsito caótico e vizinhos festeiros. Respeitar o próximo já seria uma grande conquista. E já que estamos falando em palavras que transformam, existe uma palavrinha mágica com poder para isso. Uma vez perguntaram ao sábio Confúcio se ele seria capaz de resumir todo o seu código de ética numa só palavra. Sua resposta, em forma de pergunta, é reveladora: “Não seria esta palavra ‘reciprocidade’?”.

Em outros termos, é o conteúdo da semente: Trata os outros como gostarias de ser tratado. E tenha um feliz Natal.