sábado, 22 de junho de 2013


23 de junho de 2013 | N° 17470
O CÓDIGO DAVID

ISSO NÃO É UM ASSALTO

A polícia do Rio se orgulha de não ter disparado um único tiro em Copacabana nos últimos 12 meses. Nenhum um só tiro, e há cinco anos foram mais de dois mil. Se é preciso reprimir, os policiais usam pistolas que dão choque elétrico. É o efeito da política de segurança das UPPs. Só que o crime não acabou; migrou. Os bandidos não deixaram de existir, mudaram de endereço.

Eliana, a senhora que faz faxina aqui no meu apartamento de Copacabana, Eliana vive em Niterói e conta que, por lá, agora as pessoas sentem medo de andar na rua, o que antes não acontecia. E o filho de uma amiga dela, um garoto de 13 anos, morador de Icaraí, ele vinha caminhando pela calçada, perto de casa, quando um gaiato o abordou.

– Seguinte: – disse o outro, sem perder tempo em se apresentar – Isso não é um assalto. Entendeu? Não é um assalto. Mas eu queria saber se você tem algo aí pra me dar...

O menino piscou: – Não tenho nada, só o meu celular.

– Pode ser o celular mesmo – conformou-se o homem.

Depois de receber o celular, o homem repetiu:

– Ó: isso não é um assalto.

E estendeu a mão, para cumprimentar o garoto. Que se recolheu, com medo. O homem respirou fundo:

– Pô, eu disse que não era um assalto. Não é um assalto! Não é!

E foi-se embora, indignado, mas de celular novo.

Pés e mãos

Rachmaninoff, aliás, dizem que ele era um pianista inigualável devido ao tamanho de suas mãos. Com os dedos bem abertos, alcançava 30 centímetros de teclas do mindinho ao polegar. Um fenômeno.

Já o Phelps nada do jeito que nada por ter pés número 48. Outro fenômeno...

No futebol é diferente: Rivellino calça 37. Pé de moça. E tinha a patada atômica. E era o melhor de todos.

O piano de Copacabana

Meu apartamento em Copacabana tem um piano. Sempre quis morar em uma casa com piano. Não sei tocar um parabéns a você, mas, se tivesse um piano em casa, talvez me animasse a aprender.

Houve tempo em que todas as casas de respeito tinham de ter um piano. Bom tempo, aquele. Um piano dá certa nobreza a uma casa e, ao mesmo tempo, certa animação.

Imagino esse grande e velho apartamento de Copacabana em sua época de glória – anos 60 ou 70, suponho, pelas curvas da decoração. Imagino os saraus que foram feitos em torno deste piano. Quem sabe Tom Jobim não tocou aqui, exatamente aqui onde estou escrevendo em meu laptop vulgar?

Quem sabe ele, Vinícius, Chico e Toquinho não saíram uma noite quente de Ipanema, contornaram a orla e pararam bem nesse apartamento em frente ao Atlântico, e aqui entraram às risadas, e terminaram a noite cantando ao piano, atraídos pela muita idade do uísque e pela pouca idade da filha do proprietário? Quem sabe?

Ou então o antigo dono desse antigo apartamento sabia tocar piano. Você lembra de O pecado mora ao lado, divertidíssimo filme com a Marilyn Monroe? O filme é mais ou menos da época de ouro deste meu apartamento de Copacabana.

No apartamento do protagonista, um sonhador editor de livros, existe um piano. Numa cena clássica, ele se imagina tocando para Marilyn, a vizinha que lhe inspira o pecado, ela sentadinha ao lado dele na banqueta, ele dizendo que executaria Rachmaninoff, ela gemendo em sua loirice e balbuciando que não resiste a Rachmaninoff.

Rachmaninoff. Quem sabe o dono deste meu apartamento não tocou Rachmaninoff para uma loira sinuosa como Marilyn?


Pensando nisso, às vezes aliso as teclas do piano silencioso de Copacabana. Como deve ser bom ter um piano em casa.