segunda-feira, 24 de junho de 2013


24 de junho de 2013 | N° 17471
LETICIA WIERZCHOWSKI

Loucos de cara

Toda essa gente nas ruas me dá um nó na garganta. Eu sei que, sendo escritora, tenho uma certa tendência à utopia, mas um começo sempre é um começo, e andar é melhor do que ficar parado. As passagens baixaram em várias capitais, e olha que – tirante Porto Alegre, que vem gritando há mais tempo – São Paulo e Rio saíram às ruas há cerca de uma semana. E as passagens baixaram.

Para aqueles que dizem que falta foco e liderança, eu peço apenas que vejam o que essa gente nas ruas já conseguiu. Alguém lembra de uma redução nas tarifas de transporte público? Isso deve ter sido gritado em muitos palanques eleitorais por aí afora, mas só quando foi gritado nas ruas – por gente de todos os tipos, trabalhadores, profissionais liberais, estudantes, mães, avós – foi que realmente aconteceu.

Um movimento plano, com um poder viral impressionante, e sabe por quê? Porque somos um país de “loucos de cara” (e, Vitor Ramil, me perdoe a licença do uso dessa música de chorar de tão linda, que eu acho um hino a essa gente se manifestando).

Sou absolutamente contra as depredações. Sou contra qualquer tipo de violência, como a que aconteceu na noite da última quinta-feira em Brasília, e em tantas cidades, inclusive Porto Alegre (lastimável o final grotesco de uma passeata tão bonita).

Mas o que ficou para mim nesta semana e o que eu mostrei para os meus filhos, quando assistimos juntos aos telejornais dos últimos dias, é que um povo honesto e trabalhador não pode ficar calado, não pode baixar a cabeça e abrir os bolsos para sempre, enquanto uma pequena classe de representantes que não representam mais ninguém (e nem vou falar aqui do Feliciano) faz e acontece por aí.


Se o Brasil tem futuro, ele está nessa gente andando pelas ruas das nossas cidades, essa gente pacífica, essa gente honesta e trabalhadora, pedindo um basta na corrupção, na violência urbana, na falta de educação e de saúde pública. Como diz a música do Vitor: “Se um dia qualquer, ter lucidez for o mesmo que andar, e não notares que andas o tempo inteiro/ É sinal que valeu, pega carona no carro que vem, se ele é azul não importa, fica na tua”.