sexta-feira, 26 de dezembro de 2014


26 de dezembro de 2014 | N° 18024
DAVID COIMBRA

A morte de Juraci

Minha amiga Juraci morreu assassinada na antevéspera de Natal. Foi esfaqueada diante da filha, no saguão do edifício em que morava, no centro de Porto Alegre. O assassino é o porteiro do prédio, com quem, minutos antes, ela travou uma discussão.

Juraci trabalhava como telefonista da Zero Hora havia já mais de 20 anos. Todos no jornal a conheciam e nutriam afeto por ela. Era uma pessoa doce. Doce. Dias atrás, Juraci me enviou uma mensagem tão carinhosa, que me marejou os olhos. Era uma pessoa doce.

Fiquei triste e furioso com a morte de Juraci. Triste por razões óbvias. Furioso porque esse é mais um covarde caso de violência fatal contra mulheres. Não vou desfiar aqui um rosário de contas feministas. Não que tenha algo contra o feminismo; não tenho. Contra as feministas, talvez. Em especial as neofeministas, que são umas chatolas. As neofeministas fariam um grande bem ao feminismo se não ficassem julgando as outras pessoas e se adotassem causas práticas. O caso do aborto, por exemplo.

O aborto é legalizado em vários Estados americanos, o que é uma tendência das sociedades modernas. Mas as neofeministas brasileiras não conseguem tratar a questão de forma adulta, como o problema de saúde que é. Elas preferem chocar ou levar a discussão para o pantanoso campo moral ou ético, tornando o debate menor do que poderia ser.

Outra: as pobres prostitutas brasileiras. É provável que em nenhum outro país do mundo o exercício da prostituição seja tão amplo e livre como no Brasil, mas isso é feito de maneira clandestina e hipócrita, e todos os dias prostitutas são exploradas, agredidas e, não raro, escravizadas.

Ou: por que ninguém se bate por creches públicas nos bairros pobres das cidades brasileiras? Por que ninguém lembra das mães que saem para trabalhar todas as manhãs e não têm com quem deixar os filhos pequenos?

Mas talvez o mais importante, e o que vem ao caso, é que é um erro terrível considerar mulheres e homens iguais. Um erro que é causa indireta de crimes como o que vitimou Juraci. Feministas, neofeministas, homens, todos deveriam compreender que o respeito às diferenças é o respeito à natureza humana. Homens são diferentes de mulheres. Homens são mais fortes fisicamente do que mulheres, e isso é importante. A História mostra que a força física tem papel definitivo nas relações humanas e nas relações entre as nações. O mais forte tende a oprimir.

Mulheres são mais fracas, velhos são mais fracos, crianças são mais fracas. Os mais fracos precisam de proteção. Não privilégios: proteção. A legislação teria de ser mais dura contra quem agride fisicamente mulheres, crianças e velhos.


A filha de Juraci, que também foi apunhalada pelo assassino, a filha de Juraci praticamente viu a mãe morrer em seus braços, na antevéspera do Natal de Porto Alegre. Que espécie de Natal teve essa menina? Que não haja mais Natais assim. Que a punição de homens que agridem fisicamente mulheres seja uma punição especialmente dura. Que sejam protegidas essas meninas, essas mulheres. Que tristeza, Juraci, minha amiga. Uma pessoa tão doce.