sábado, 27 de dezembro de 2014


27 de dezembro de 2014 | N° 18025
CAROL BENSIMON

A felicidade são os outros

Você é feliz? Talvez nenhuma pergunta pareça tão difícil quanto essa. As pessoas em geral ficam confusas quando precisam respondê-la e, enquanto esboçam um sorriso constrangido (do tipo “como você ousa perguntar isso?”), estão mentalmente fazendo um balanço de seus altos e baixos em busca de uma resposta definitiva. O fato é que sempre parece difícil fazer com que tantas oscilações – essa coisa chamada vida – caiba em um mero sim ou não.

Ao mesmo tempo, diante da questão “o que você quer da vida?”, é muito provável que a maioria de nós responda com um retumbante “ser feliz”. Conclusão: estamos muito interessados em felicidade, mas ainda não sabemos exatamente o que ela é.

Claro que, enquanto beijamos o ser amado, nos sentimos realizados no trabalho ou compramos livros de autoajuda com grandes smiles na capa, alguém está em uma universidade fazendo testes com gêmeos univitelinos a fim de desvendar o segredo das pessoas felizes. A ciência nunca soube tanto quanto sabe hoje sobre felicidade, e uma boa amostra disso pode ser vista no documentário Happy, do norte-americano Roko Belic. Entre um tanto de informações, destaco uma: gostamos de viver rodeados de pessoas.

A Dinamarca é considerada um dos países mais felizes do mundo, e Belic nos leva até lá, mais especificamente para dentro de uma propriedade habitada por algumas dezenas de famílias de classe média. À primeira vista, pode não parecer muito diferente de um condomínio de casas ou de um edifício brasileiro, mas a comparação não dura mais do que alguns segundos: nesse modelo de coabitação dinamarquês, as pequenas unidades familiares formam de fato algo maior. Crianças de diferentes idades andam juntas, os adultos são amigos, as tarefas são compartilhadas e as refeições acontecem em um grande salão.

Se esse senso de comunidade contribui para que os níveis de felicidade da Dinamarca sejam altos, talvez seja o momento de perceber que o Brasil caminha na direção oposta. Não conhecemos sequer as pessoas que moram em nossa rua, e pedir uma xícara de farinha para um vizinho, devolvendo o favor em forma de bolo no dia seguinte, não passa de uma cena encontrada em filmes americanos (junto com abóboras decoradas e secretárias eletrônicas). Os espaços de convivência estão rareando — a praça, a feira, o armazém. Vivemos cada vez mais encerrados em nossas próprias casas, e a violência urbana não parece ser a única responsável por isso.


A prova? A “área comum” de nossos prédios recém construídos não leva ao convívio entre moradores, mas à segregação. Na sexta, você usa o salão de festas. No sábado, é a vez do 402. E nossa grande torcida cotidiana é sempre não por uma conversa amigável, mas pela solidão de um elevador completamente vazio.