segunda-feira, 7 de maio de 2018



07 de Maio de 2018
OPINIÃO DA RBS

LIÇÕES ARGENTINAS

Resta ao governo brasileiro, que assiste a tal situação tão de perto, ficar vigilante e aprender com a experiência do país vizinho
 
Avolta da inflação desenfreada e a taxa de juro em 40% mostram o círculo vicioso em que a economia argentina se encontra. Sem dúvida, o presidente Mauricio Macri corrigiu muitos dos erros que encontrou. No entanto, a política populista de retenção artificial de preços públicos praticada no período em que o casal Kirchner esteve no poder deixou marcas profundas. Mesmo manipulada, a inflação no governo de Cristina Kirchner só ficou um ano abaixo de 20%, em 2009. Com preços em alta e déficit fiscal, o país fica frágil diante de qualquer estresse internacional.
 
Embora as condições gerais sejam diferentes, a situação argentina serve de alerta para o Brasil. A falta de apoio dos parlamentares para aprovar reformas profundas, como a trabalhista, a previdenciária e a tributária, torna o país um labirinto burocrático, no qual o corporativismo se sobrepõe aos interesses da nação.
 
Assim como o Brasil, a Argentina ensaia sair de uma crise profunda, provocada sobretudo pela prática de políticas econômicas equivocadas ao longo de uma década, mas esbarra em dois obstáculos: a não adoção de um modelo de austeridade capaz de reduzir o desequilíbrio nas contas públicas e a falta de modernização do arcabouço legal para tornar o país competitivo.
A vitória acachapante nas eleições legislativas de outubro passado não foi suficiente para mostrar aos representantes do povo no Congresso argentino que a população, mais do que apoia, anseia por reformas.
 
Resta ao governo brasileiro, que assiste a tal situação tão de perto, ficar vigilante e aprender com a experiência do vizinho. Primeiro, porque uma crise prolongada do outro lado da fronteira certamente acabará afetando as exportações e retardando a recuperação das montadoras, responsáveis por um grande número de postos de trabalho no país. Depois, porque mostra a urgência da aprovação de reformas estruturantes. A alternativa será tornar-se a Argentina.