quarta-feira, 16 de maio de 2018


15 DE MAIO DE 2018
CARLOS GERBASE

POLÍTICA DE DUAS CARAS


Quanto mais nos aproximamos das eleições, mais aumenta a angústia sobre em quem devemos votar. Daqui a pouco, os marqueteiros começam a colocar na rua suas estratégias de convencimento. Sugiro a todo eleitor que dê uma olhada no clássico livro Vende-se Política, de Laurence Reese, que desvenda os subterrâneos da propaganda eleitoral dos Estados Unidos e na Europa. 

Para alguns candidatos, seguir os conselhos dos especialistas em marketing tornou-se algo tão natural que, se perguntados sobre qual a sua opinião sobre determinado assunto, eles são capazes de dizer: "Vou checar algumas pesquisas e depois te respondo." Pra ganhar tempo, logo telefonam para seus marqueteiros de estimação, que já terão a melhor resposta, ou seja, aquela que agrada a mais eleitores.

De certo modo essa procura da resposta mais eficiente já é coisa do passado. Sabemos agora que, pela sofisticada manipulação de um banco de dados gigantesco (a exemplo do que foi roubado pela Cambridge Analytica, a serviço de Trump), um candidato pode enviar opiniões opostas sobre um mesmo tema para eleitores cuidadosamente selecionados. 

Não se trata mais de seguir a maioria e encontrar a opinião mais eficiente, e sim de adaptar-se, de forma vergonhosa, a qualquer opinião. As palavras de alguns políticos - como a História mostra claramente - não passam de balelas para conseguir votos. Uma das palavras mais utilizadas por Hitler era paz. No entanto, em tempos idos os discursos, mesmo que artificiais ou mentirosos, apontavam para um certo perfil ideológico, uma "cara" de candidato. Isso acabou. Estamos na era da política de duas caras.

Aparentemente, a vantagem é dos candidatos de centro, que de manhã avançam um pouco para a esquerda e à tarde caminham malandramente para a direita. As aparências enganam. Trump tinha uma típica "cara" de direita - a favor do armamento, contra a proteção ambiental e a seguridade social -, mas conseguiu construir uma outra "cara", mais moderada, mais "democrata", através de uma eficiente (e, ao que tudo indica, criminosa) estratégia de comunicação digital. Cabe ao eleitor consciente arrancar esse tipo de máscara e ver a verdadeira "cara" do político. Mesmo que ela seja horrorosa.

CARLOS GERBASE