sexta-feira, 11 de novembro de 2022


EDUARDO BUENO

La Gal

Ave, Maria das Graças, cheia de graça, cheia de contos, na baía de todos encantos.

Maria sereia, ser do mar e da areia. Maria serena, severa, cujo canto nos enfeitiçou e nos soltou dos mastros. Maria de todos os sons e regaços. Sim, Gal de todas as graças, nascida Maria da Graça Penna Burgos Costa, nome de dama, nome de diva, vinda ao mundo na Cidade do Salvador, na Baía de Todos os Santos e todos os sons. Mulher fatal, tropical e plural. Maria Le Gal, ergueu a voz de veludo para aluminar feito vela nossos recantos mais escuros.

Gal, cheia de luz, sob o sol do sertão. Gal tão linda, índia que desceu de uma estrela colorida, brilhante, numa velocidade estonteante, com lábios cor de mel, lábios de rosa emoldurando a tão grande boca, que lança essa voz tamanha, essa força estranha que te levou a cantar. Gal, olhos de amêndoa debaixo dos caracóis dos teus cabelos, negros como noite sem luar, risca outro fósforo, outra luz, outra cor.

Gal baby blue, honey baby, no Blue Note, live in London, London. em Montreaux, lançando disco voador no Cinema Olympia; acústica, elétrica e valvulada. Gal de calças vermelhas e casaco de general, descendo por todas as ruas, para tomar aquele velho vapor barato. Gal na roda viva, no samba de roda, girando na roda do Chacrinha, na lanchonete, na margarina, na Amaralina, menininha do Gantois, eleita dos orixás. Gal sagrada e profana, vaca indiana tropical, doce e bárbara. Gal é tropicália, é marginália: tua voz é nossa voz.

Gal deu voz aos mudos nos anos de chumbo, desfilou na passarela nos anos dourados, dourou a pílula, fez caras e bocas, de tanga e de colar. Água viva, baby Gal, andando com a gente, nos vendo de perto, dando o pulo da gata, o sorriso do gato na mina d´água. Gal dos mano e das mina, nas dunas do barato, na dura poesia concreta das nossas esquinas. Gal e Gil e João e Caê e Beta, Bethânia, mulher alfa, de todas as manhas, de todas as manhãs nascendo no farol da Barra, passando a tarde de Itapuã. Gal Gabriela, cravo e canela, no fervo, no frevo, no samba, da MPB e do axé. Gal de tantos amores, de todas as coisas, de todas as cores, de todos os nomes e dos cantos do futuro. 

És estratosférica, feérica, famélica, Gal dos tabuleiros da ala das baianas. Sim, abram alas para Gal ao som dos atabaques, pois aqui vem ela descendo a ladeira, tingida pela aquarela do Brasil. It´s all over now, Baby Gal? Mas que nada! Sai da frente que Gal quer sambar.

Gal divina maravilhosa, aquele abraço. Agora, cantas no céu, uma estrela entre tantas.

EDUARDO BUENO

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