terça-feira, 15 de novembro de 2022


EM CASA

"Ligações Perigosas" retorna às telas, outra vez

Romance epistolar de Pierre Choderlos de Laclos inspira nova série

Ligações Perigosas, o romance de Pierre Choderlos de Laclos sobre amor, competição e vingança na aristocracia francesa pré-revolução, rendeu uma série de adaptações para o cinema e a televisão. Roger Vadim transportou a história para a França da década de 1950. Em 1988, Stephen Frears dirigiu uma versão que venceu três Oscars. Annette Bening e Colin Firth estrelaram Valmont (1989), de Milos Forman. Segundas Intenções (1999), com Sarah Michelle Gellar, passava- se na Nova York da virada do milênio. Houve também versões chinesas, sul-coreanas e até uma minissérie brasileira, com Patrícia Pillar e Selton Mello.

A história volta às telas em Ligações Perigosas, disponível na plataforma de streaming Lionsgate+, com episódios semanais, aos domingos. Criada por Harriet Warner, a série é um prelúdio do livro, uma história de origem dos famosos personagens Visconde de Valmont e Marquesa de Merteuil. No futuro, os ex-amantes tornados rivais entram em uma competição de sedução que deixa diversos feridos pelo caminho.

Mas, aqui, Camille (Alice Englert) é uma prostituta de passado mais abastado, presa à sua condição por conta de dívidas. Ela está apaixonada por Pascal (Nicolas Denton), um nobre sem posses depois da morte de seu pai, que deixou tudo para a mulher.

- É o início do amor dos dois, como surge, como acaba e termina levando-os a um caminho de vingança - disse Denton em entrevista por videoconferência.

Englert sempre foi fascinada pela ligação entre os dois, que não é muito explicada no livro.

- Vemos o início da história que os assombra durante toda a vida. Mas aqui eles estão cheios de energia e inspiração da juventude. É tudo promissor - destacou a atriz. - Todos os vilões do mundo foram, um dia, pessoas com futuro, boas intenções.

Mulheres

A ideia da série surgiu quando Harriet leu a carta número 81 do livro, em que a Marquesa de Merteuil fala sobre se reinventar, não mostrar como se sente, esconder- se atrás de uma fachada para sobreviver em Paris.

- Para mim, ela não falava como uma mulher que pertencia àquele mundo, mas como alguém que tinha entrado nele - ressaltou a showrunner. - Foi extremamente empolgante, porque vi que não sabíamos nada sobre quem ela era antes. Havia uma folha em branco para criar essa mulher.

Mesmo tratando dessa relação tão complicada, cheia de paixão, sexo e traição, a série é claramente focada nas mulheres.

- Foi bem consciente. Sou feminista, é uma honra contar essa história por meio das vidas das mulheres de Paris, de diversas classes sociais, com uma personagem como Camille, que não é perfeita mas é corajosa, não tem medo de ser quem é.

Além de Camille, Ligações Perigosas tem outras mulheres interessantes, como Geneviève de Merteuil (Lesley Manville), Jacqueline de Montrachet (Carie van Houten) e Victoire (Kosar Ali), a melhor amiga de Camille.

- Eu acho que a diferença aqui é que a perspectiva feminina não é obscurecida - disse Englert. - Elas ainda precisam viver dentro do patriarcado, mas vivem episódios interessantes.

Victoire não é a única personagem não-branca da história e não foi apenas por uma questão de querer ter mais representatividade.

- Nossa série é, sim, incrivelmente inclusiva. Mas também historicamente precisa - disse Nicholas Denton. - A verdade é que a história foi branqueada por tanto tempo, sem ser a realidade.

Desde seu lançamento em 1782, Ligações Perigosas foi visto como uma crítica à aristocracia - que seria derrubada sete anos depois, com a Revolução Francesa. A Paris da série é linda e glamourosa, mas também crua, suja e brutal.

- Alguns historiadores acreditam que o romance inspirou as pessoas a se rebelarem, ao mostrar a vida dessa elite pervertida - disse Warner, que ambientou sua história alguns anos mais tarde que a obra de Chorderlos de Laclos. - Quis mostrar o que acontece quando não há uma rede de segurança, em um tempo de grande divisão e desigualdade, muito similar, aliás, ao que estamos vivendo hoje.

Estadão - MARIANE MORISAWA 

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