03
de abril de 2015 | N° 18121
DAVID
COIMBRA
Tudo está no seu lugar
Será
que o Fabrício é petralha ou coxinha? Os petralhas falam que os coxinhas sentem
ódio. Então talvez ele seja coxinha. Todo aquele ódio da torcida, da camisa e
tal. Mas a brabeza dele parece uma brabeza de Maria do Rosário. Petralha, portanto.
Ou seria uma brabeza de Bolsonaro? Ou o Bolsonaro é mais chato do que brabo?
Agora:
é certo que o Fabrício é gremista. Disso não há dúvida. Aliás, o Grêmio é
coxinha ou petralha? E o Inter? O Inter usa camisa vermelha, a Dilma disse que
é colorada e, inclusive, ajudou na reforma do Beira-Rio. Acho que o Inter é
petralha. Assim, o Grêmio só pode ser coxa branca.
Mas
tenho uma dúvida: o Lula, o que ele é? Corintiano, certo, mas nós sabemos muito
bem que todas as pessoas têm de se definir entre gremistas ou coloradas,
coxinhas ou petralhas. Logo, o Lula, rei dos petralhas, tem de ser uma coisa ou
outra, gremista ou colorado. Ele usava um calção do Inter naqueles churrascos
da Granja do Torto, eis um indício. Mas você se lembra de 2010? Em 2010, ele
atravessou a pé o túnel de Maquiné e depois declarou, orgulhoso com seu
desempenho físico:
–
Dei um banho nos meus amigos gaúchos. Eu não pipoquei que nem o Inter contra o
Mazembe.
Quem
cita o Mazembe só pode ser gremista. O que significa que o Grêmio poderia ser
petralha.
Já
champanhe é coxinha, óbvio. Cerveja é petralha, a não ser essas cervejas
artesanais novas.
São
Paulo, todo mundo sabe, é muito coxinha, enquanto o Rio é petralhíssimo. Mas o
curioso é que São Paulo é trabalhador, e o Rio nem tanto, o Rio é praia e chope
e camarãozinho frito. Estranho.
Outro
dia, acordei me sentindo extremamente coxinha. Comi scrambles no café da manhã
e saí por aí privatizando.
Mas,
no dia seguinte, estava irritado. Chovia, fazia frio e cheguei atrasado à aula.
Aí dei um soco na mesa e rosnei:
–
Maldita mídia!
Quer
dizer: petralhei.
Beatles
são coxinhas, Stones são petralhas. Aquele vocalista xarope do U2 é petralha,
mas a loira Taylor Swift é coxinha. Rap é petralha, bossa nova é coxinha. Funk
é petralha, jazz é coxinha. Miami é a cidade mais coxinha do mundo e Detroit é
petralha. Londres é um pouco petralha, embora a Inglaterra seja coxinha, e
Paris é totalmente coxinha, embora a França seja petralha. A Alemanha também é
coxinha, mas Berlim, sobretudo no antigo lado oriental, é petralha.
Sanduíche
de mortadela é petralha, Big Mac é coxinha. Bacalhau na Sexta-Feira Santa é
coxinha, principalmente se for à Gomes de Sá. Massa com sardinha é petralha.
Coxinha de galinha, claro, é coxinha, e croquete é petralha. O ponto de
exclamação é petralha, ó: ! Mas o ponto e vírgula, veja: ; Coxinha! John
Steinbeck, mesmo americano, era petralha. Dostoiévski, mesmo russo, era
coxinha. Papai Noel é petralha e o coelhinho da Páscoa, que vem chegando aos
saltos, é coxinha. É um alívio ter tudo bem classificado no mundo. A vida fica
tão mais fácil assim...