sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Jaime Cimenti

A coleção de lembranças poéticas do Luiz Coronel

A memória é o lugar em que as coisas acontecem muitas vezes. As pessoas só morrem mesmo depois que ninguém mais lembra delas e “as verdadeiras viagens se fazem na memória”, esta última de Marcel Proust, são algumas das frases que o livro de crônicas memorialísticas Um cronista inesperado de Luiz Coronel evoca. O poeta, compositor, publicitário e escritor apresenta esta nova face de seu talento, em 24 textos inéditos, nos quais trabalha suas memórias de infância e juventude até os anos 1980, tempos vividos entre as cidades de Bagé e Piratini.

O autor é um grande contador de histórias, um “raconteur” de primeira, e sua prosa carrega o forte e inescapável timbre do poeta. Mario Quintana escreveu que o tempo é só um ponto de vista dos relógios e Coronel, ao nos oferecer generosamente sua poética coleção de lembranças poéticas, mostra como é possível e bom observar o tempo, as pessoas e o mundo com olhos de criança, adolescente e turista, sem perder o encanto pelas manhãs e pela vida que vai acontecendo como as eternas luzes do sol, da lua e das estrelas.

Quando fala de casas, obras de arte, jardins, pessoas, objetos, situações do cotidiano, lembranças e outros pequenos grandes  tesouros da existência, Luiz Coronel nos inspira a lembrar de nossas próprias vivências e a nos reinventarmos a partir de nossas palavras, pensamentos, sentimentos e recordações. As pequenas histórias são as grandes histórias.

A História é muitas vezes chata, mentirosa, manipulada e manipuladora. Muitas vezes, ela é só o papo de quem se achou vencedor. Muito embora o livro traga belos poemas e citações de muitos autores e reflita sobre a inevitável passagem do tempo, o autor, com toda a consciência procurou, como ele mesmo disse, “chegar às pessoas com o mesmo contentamento e a humildade com que o padeiro entrega o pão recém-saído das fornalhas na manhã fria”.

Falando de pessoas e de cenas do Interior e da Capital, dos complicados dias de 1964, de parentes, amigos, situações de trabalho, sonhos e lutas, alegrias e tristezas, o autor não se esconde atrás das palavras, como disse, e bate em nossa porta, nesse início de primavera, trazendo as coisas essenciais de sempre e os sorrisos do dia.

Mecenas Editora, 215 páginas, R$ 28,00, produção gráfica de TAB Marketing Editorial, com apoio cultural Grupo Zaffari.