quarta-feira, 25 de dezembro de 2013


24/12/2013 e 25/12/2013 | N° 17654
ARTIGOS - Esther Pillar Grossi*

Não estamos melhorando

Li penalizada, quase do princípio ao fim, a matéria de Zero Hora de domingo sobre o Julinho. Penalizada em primeiro lugar pelos alunos, em segundo pelos professores, em terceiro pelos pais dos alunos e em quarto pela sociedade.

Esta situação crítica poderá ser outra se...

“Até sete professores faltam no turno da manhã ao colégio e um deles afirma: ‘Não tem condições, mesmo que tu venhas com toda a boa vontade, tu acabas desistindo’.”

“O dia 22 de novembro foi o último dia de aula. Aulas acabam um mês antes do fim.”

“A gente não pode exigir muito, senão tiram nota baixa.”

“A maioria passa arranhando. É uma hipocrisia.”

Num ano letivo que começou no início de março, 12 de junho é um dia histórico para a turma de 1º ano do Ensino Médio, a que foi acompanhada pela Zero Hora no Colégio Julio de Castilhos, em Porto Alegre. 12 de junho é histórico para esta turma porque foi o dia da primeira aula na área da matemática. E, em 4 de outubro, a titular entrou em licença médica.

A escola se democratizou, abriu as portas. Veio uma população pouco letrada e a gente não está sabendo o que fazer com ela, disse a orientadora educacional.

O diretor reconhece – o colégio espelha uma crise. Senhor diretor, a crise é muito maior que a do seu colégio.

Esta população pouco letrada só ajuda a pôr em evidência o problema escolar. Ele é muito mais amplo, porque diz respeito a todas as escolas, inclusive as universidades.

Mas esta crise pode ser enfrentada em suas raízes se, e somente se, achados fantásticos das ciências do aprender passarem a embasar a ação docente. Compreende-se, hoje, que não se aprende por explicação, mas por provocação às hipóteses que os aprendentes formulam em situações vividas, com elementos dos conhecimentos.

É uma descoberta radical, tanto quanto a de Copérnico quando viu que não era o Sol que girava em torno da Terra, mas esta que o faz em torno do Sol. E, mais radical ainda, porque necessita para chegar à sala de aula de muita pesquisa científica, a pesquisa das psicogêneses das aprendizagens de cada campo conceitual.

O bom é que o caminho existe e é possível de ser trilhado com êxito. Escrevo apoiada na experiência concreta da implementação desta descoberta na área da alfabetização, no Programa de Correção de Fluxo Escolar, do Ministério de Educação. Já se chega a quase 100 mil alunos com mais de oito anos que são alfabetizados entre três e cinco meses, em 170 municípios de todos os Estados brasileiros, com base nesses princípios científicos.

A sorte é que vou viver 115 anos e certamente ainda verei a transformação da escola em um lugar de muito prazer de aprender, o que só será possível quando atentarmos para o processo do aluno, que não se pauta direto por conhecimentos acabados, mas por uma construção pessoal e intransferível dos aprendentes.


*COORDENADORA DE PESQUISAS DO GEEMPA