domingo, 29 de dezembro de 2013

MAURICIO STYCER

Humor feminino

Tina Fey não vê diferença entre homens e mulheres, mas admite que, às vezes, um não entende a piada do outro

A comediante Tina Fey recorda que, no primeiro programa em que trabalhou como roteirista do "Saturday Night Live", em setembro de 1997, o ator Sylvester Stallone seria o convidado especial.

Ela conta que houve uma dúvida no momento de escalar um dos integrantes da turma do "SNL" para imitar Adrian, a mulher de Rocky, vivida por Talia Shire nos filmes da série. A humorista Cheri Oteri queria o papel, mas "alguém achou que seria mais engraçado colocar o comediante Chris Kattan de vestido".

"Eu me lembro de achar que aquilo era ridículo", escreve Tina Fey. "Na época em que fui embora, nove anos mais tarde, isso nunca teria acontecido. Ninguém teria imaginado nem por um segundo que um cara de vestido seria mais engraçado que uma mulher."

A história está relatada no livro "A Poderosa Chefona" (Best Seller, 272 págs., R$ 35), no qual Tina descreve, com bom humor, a sua infância e a sua trajetória profissional.

A questão de gênero perpassa todo o livro, ainda que Tina evite uma abordagem feminista.

Ao lembrar que Jerry Lewis disse não gostar de nenhuma mulher comediante, ela sugere: "Quando der de cara com a discriminação sexual [...], pergunte a você mesma: Essa pessoa está entre mim e o que quero fazer?'. Se a resposta for não', ignore e siga em frente".

Tina, como se sabe, entrou para a história como a primeira mulher a chefiar a equipe de roteiristas do "SNL", um dos mais tradicionais e importantes programas de humor da TV americana. Na sequência, foi convidada pela rede NBC para desenvolver uma série própria, o que resultou na premiada comédia "30 Rock", com Alec Baldwin, exibida entre 2006 e 2013.

Em 2008, Tina voltou ao "SNL" para uma participação especial que a tornou mundialmente famosa. Por seis semanas, imitou Sarah Palin, então candidata a vice-presidente dos Estados Unidos, na chapa do republicano John McCain. Explorando o despreparo e a caipirice da política, a paródia teve um efeito devastador na campanha.

A certa altura, Tina teve a oportunidade de conhecer Palin, que se ofereceu para contracenar com ela no programa. Diante das críticas que ouviu, ela observa: "Eu não sou cruel e a Sra. Palin não é frágil. Insinuar o contrário é um desserviço a nós duas".

Em outra passagem do livro, Tina diz que sempre perguntam a ela qual é a diferença entre comediantes masculinos e femininos. A sua reposta é evasiva, mas ela admite que, muitas vezes, os homens não fazem ideia do que as mulheres estão falando e vice-versa.

Sempre rindo, ela dá "dicas práticas sobre como se dar bem num ambiente dominado por homens". A saber: "Não use rabo de cavalo nem tomara que caia. Chore moderadamente. Ao escolher parceiros sexuais, lembre-se: o talento não é sexualmente transmissível. Mais uma coisa: não coma nada diet em reuniões".


Capa de inúmeras revistas ao longo de sua carreira, ela diz: "Deveria ser completamente obrigatório as revistas darem crédito à pessoa que fez o Photoshop, assim como fazem com a maquiadora e o cabeleireiro". Como todo bom humorista, homem ou mulher, Tina Fey sabe rir de si mesma.