terça-feira, 24 de dezembro de 2013


24/12/2013 e 25/12/2013 | N° 17654
DAVID COIMBRA

Presente de Natal

Meu filho era bem pequeno, mal sabia falar, mas havia uma palavra que ele repetia a todo momento:

Quero.

Na verdade, “eu quero”. Tudo ele queria e a cada instante queria. Fiquei fascinado. Ali estava um resumo da vida. O ser humano atravessa seu tempo debaixo do sol querendo, a vida inteira é um querer sem fim.

Agora, no desfecho de dezembro, a primeira pergunta que você se faz é: o que eu quero de Natal e para o ano que vem? E à noite, no recôndito do seu quarto, à meia-luz, você fecha os olhos em oração, concentra-se no Deus em que acredita e faz o quê? Um pedido. “Pedi e vos será dado”, disse Jesus.

Pedi e vos será dado. Linda promessa. Uma promessa de esperança. Mas o que você quer? Você sabe, realmente, o que você quer? Você sabe se o que você pensa querer é o melhor para você? Você tem certeza?

Aquela pequena deusa de pele de ouro, se ela se olhar no espelho, ela vai dizer: “Eu gosto daquele cara, é dele que gosto”. Ela gosta. Mas o que ela vai fazer com este sentimento? Ela não sabe.

E aquele seu colega devasso, ele é guiado pelo desejo, ele busca o prazer, mas nunca encontra satisfação. Ele deseja, mas não sabe de fato o que quer. Não sabe nem se a realização do seu desejo lhe fará bem ou mal.

E a mulher executiva, ela recebe um gordo salário, ela tem autoridade dentro do seu tailleur, ela é dona de uma beleza clássica, mas falta-lhe algo, e ela não sabe o que é. O que pode ser, se ela aparentemente tem tudo o que uma mulher pode querer?

Eu quero, eu quero. Você sabe o que quer? Muito dinheiro no bolso? Saúde pra dar e vender? É o suficiente? Ou você quer apenas uma casa no campo, do tamanho ideal, pau-a-pique e sapê? Ou você é um menino que sonha com o título do seu time no ano que vem? Lembro de um final de ano no IAPI em que um grupo de garotos passou a virada do dia 31 de dezembro para o 1º de janeiro jogando bola. “Para jogarmos bem no ano que vem”, explicaram. São esses anseios prosaicos que o motivam? Que bom, se for.

Eu quero. O budismo ensina que a felicidade está na extinção do desejo. Quanto menos você quiser, mais próximo estará da satisfação. Mas como não querer, se esse é um mundo de quereres?

O que eu quero para 2014? Querer menos, talvez. Sim, eu queria querer menos. Mas queria também ter inteligência para compreender as pessoas que me amam. E paciência para me conformar quando elas não me compreendessem. E atravessar o dia sem tentar resolver todos os problemas da minha vida. Apenas, viver. Suavemente, serenamente, aceitando o tempo que passa, no ritmo das ondas do mar, viver, apenas viver.


A coluna do David é publicada às terças-feiras