segunda-feira, 23 de junho de 2014


23 de junho de 2014 | N° 17838
ARTIGOS - Paulo Brossard*

RELIGIÃO SEM DEUS

As divergências internas eram tais e de tal relevância que os anos se passaram e elas foram mantidas, senão aprofundadas, ao ponto de, em 1961, o muro de Berlim dividir Alemanha em duas, coisa inconcebível no século 20, até que o muro veio a ser posto abaixo.

Esses dados, que são de ontem, evidenciam seus desequilíbrios ou contradições. Alguns países continuavam tradicionais em sua fidelidade    democrática, outros ostentavam as cores    vermelhas do radicalismo.

O resultado foi a Alemanha posterior à esquizofrenia    nazista retornando às bases da República de Weimar, enquanto a Oriental, que se autoprotegia com o muro, afastava-se de tradições    ocidentais; o resultado entre ambas, em todos os sentidos, a começar pelo econômico    e social, divergir a ponto de a Oriental ser irreconhecível comparada à Ocidental.

Decorridos os anos, o que sobrou da forte presença esquerdista marcante no mundo a partir do fim da guerra? O império moscovita subitamente desmembrou-se, e hoje Cuba    é quase o único país que se apresenta como comunista, juntamente com a Coreia do Norte.

Durante longos anos, o comunismo foi uma religião com dogmas e regras terminantes e implacáveis, que não se mantiveram imunes à teologia marxista-leninista (com perdão    do sacrilégio) e que foram sendo erodidas pelas evidências e fortaleza    dos acontecimentos.

Alguém, mais paciente, encontrará outros exemplos, mas nenhum tem a expressão da simpática ilha do Caribe. A tanto se reduziu a febre do esquerdismo radical. Foi se extinguindo por carência de vitalidade. É o que resulta de uma religião sem Deus. Era um mundo que fechava as portas e outro abria as suas.

*Jurista, ministro aposentado do STF


PAULO BROSSARD