domingo, 22 de julho de 2018


17 DE JULHO DE 2018
DIANA CORSO

O que quer um homem?


Bicha, boiola, maricas, frutinha, boneca, fresco, veado, não faltam palavras para os que fogem, mesmo que por detalhes, dos clichês da macheza. É tão vasta a riqueza de nomes para definir esses "desviantes" como é para nomear uma mulher que não seja recatada e do lar. Só isso já nos dá uma pista de que os privilégios masculinos custam caro demais.

Imagine se os homens não precisassem viver provando sua virilidade. Se pudessem libertar-se da frigidez emocional, sentir, chorar. Se não tivessem sua sensualidade restrita ao pênis. Se fizessem o exorcismo da sina da ereção eterna. Seria a libertação de uma cultura que os obriga a viver presos em uma carapaça pesada e inútil.

Na mesma fogueira destinada aos sutiãs, eles jogariam anabolizantes, halteres, viagras, ternos duros e gravatas sufocantes. Os que foram discriminados pela falta de simpatia pela bola iriam incinerar as camisetas do time que nunca conseguiram amar. Nunca houve uma grande queima ritual de sutiãs, é uma referência simbólica. Foi nossa imaginação histórica, que associa mulheres com bruxas, que a recriou.

Tais militantes homens da causa sofreriam o peso da condenação social, como ocorre até hoje com as mulheres que não são virginais e submissas. As que polemizam ainda são vistas como vadias, frígidas, mal-amadas, movidas pela inveja do pênis e recalques variados.

Ao nascer, você recebe um nome e é encaixado em uma das duas categorias. Ao contrário das perguntas que possamos nos fazer sobre como ser, no que acreditar, em nome do que existir, a masculinidade e a feminilidade estão fadadas a ser o paraíso da previsibilidade. Desde nossa certidão de nascimento até o atestado de óbito, vai ser preciso marcar com um x o sexo ao qual pertencemos. Aferramo-nos a essa divisão binária porque duvidar cansa, dá medo.

Estudando história, descobrimos como as certezas científicas e morais sobre as características do homem e da mulher podiam virar até o oposto do que se acreditava antes. Comicamente, continuaram sendo apresentadas como verdades eternas, naturais e universais.

Quantos meninos foram rejeitados pela família ou desprezados pelo pai? Quantos foram fisicamente agredidos, até abusados? Quantos tiram a própria vida por isso? Quanta solidão, por medo de ser considerados próximos das mulheres? Quanto ódio para nunca serem tachados de fracos e submissos?

A guerra dos sexos está na origem da epidemia de feminicídios e cobra sua cota de vidas dos dois lados das trincheiras. A violência masculina faz vítimas em suas próprias hostes.

Eles passam dizendo que não sabem o que uma mulher quer, as acusam de eternas insatisfeitas. É que, com suas lutas, elas aprenderam a colocar isso em questão. Sonho com o dia em que também um homem possa duvidar do que, afinal, ele quer.

*O jornalista David Coimbra está em férias. - DIANA CORSO