domingo, 22 de julho de 2018




ALGUMAS HORAS EM... BRUXELAS


Já não há (e nem poderia haver) motivos para ressentimentos: a Bélgica nos tirou da Copa e também acabou desclassificada pela França. Mas foi o confronto no Mundial de futebol na Rússia que me inspirou a relembrar os quase três dias passados em Bruxelas em abril do ano passado, quando estava de férias em Amsterdã e peguei um trem para visitar a capital belga.

As duas capitais estão separadas por uma viagem tranquila de cerca de três horas. Com pouco tempo, a hospedagem teria de ser estratégica, em hotel próximo à Grand Place, o coração de Bruxelas, para poder fazer praticamente tudo a pé. É muito fácil se locomover na cidade de 1,2 milhão de habitantes. Confira mais este rasante na série inspirada no 36 Hours do New York Times.

1. Carregando só uma mochila, fui caminhando da estação de trem, a Gare du Nord, até o hotel, perto da Grand Place. Com a tarde já avançada, optei por um restaurante próximo para o almoço, o Drug Opera, um dos mais tradicionais pubs locais, instalado num prédio do início do século 20. E começou ali mesmo a primeira de várias degustações da cerveja belga, que, em 2016, recebeu da Unesco o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade - o país tem mais de duas centenas de cervejarias e cerca de 1,5 mil diferentes tipos da bebida, com uso de distintos tipos de fermentação.

2. Tentando fechar os olhos para as vitrines das docerias (os doces árabes são um capítulo à parte) e chocolaterias, o destino óbvio era a Grand Place. No final da tarde, os detalhes em dourado das construções em estilo da Renascença flamenga, do século 17, ficam ainda mais vistosos. Não à toa ela é considerada uma das praças mais bonitas do mundo - denominação dada até pelo autor de Os Miseráveis, Victor Hugo. Nos meus três dias em Bruxelas, a vi muito lotada e quase vazia e ela fica linda de qualquer jeito. O mesmo vale para Les Galeries Royales Saint-Hubert (foto abaixo), galerias do século 19 que ainda abrigam cerca de 50 lojas, teatro, cinema e restaurantes. Em pouco tempo, vira uma espécie de passagem obrigatória para outras atrações. Calcula-se que passem sob as colunatas cerca de 6 milhões de visitantes por ano.

3. Ao caminhar meio a esmo pelas ruas, à espera da abertura do Museu Magritte, acabei no encantador Jardin du Petit Sablon - um jardim de 1890, rodeado por 48 estátuas de bronze representando antigas profissões praticadas em Bruxelas - e na

Igreja Notre Dame du Sablon, onde os grandes vitrais são o atrativo deste templo do século 15. É nele que está enterrada Santa Úrsula. Voltei ao museu, a esta altura já aberto, para admirar as cerca de 200 obras do pintor surrealista. É um lugar fácil de visitar, com uma variedade enorme de produções do prolífico Magritte: desenhos, pinturas, aquarelas, cartazes publicitários, partituras, fotografias e filmes feitos por ele próprio. Sim, tem também uma lojinha irresistível, com os chapéus, pássaros e nuvens de Magritte.

4. Como tudo para mim em viagem acaba tendo algum sentido, me diverti até num antigo "armarinho", a Maison Dorée (Chaussée d?Ixelles 14), que tem tecidos, acessórios para roupas e decoração inacreditáveis e está ali no mesmo endereço desde 1923. Na caminhada sem rumo, escolhi para o almoço desse dia o Le Clan des Belges (esquina da Sainte Boniface com a Rue de la Paix), um restaurante daqueles que se costuma dizer "frequentado por locais", com comida boa, não muito caro e um ambiente que reproduz a década de 1920.

5. Desse meu rasante por Bruxelas, dois destaques mais: o primeiro é o Belgian Comic Strip Center, sobre o qual já escrevi na coluna. O espaço dedicado ao cartum, instalado num edifício em estilo art noveau do início do século 20, abriu as portas como museu em 1989. Tem exposições permanentes e temporárias, mas dois de seus atrativos principais são os personagens Tintin e os Smurfs e seus criadores, respectivamente, os belgas Hergé (no detalhe) e Peyo. O outro é o Parlamento Europeu (foto maior), do qual Bruxelas é sede. Eu não tinha tempo para a visita guiada (é possível até assistir a uma das sessões) e só circulei na área externa, mas dá para ter uma ideia de como funciona o local onde se reúnem os chefes de Estado da União Europeia, nesta cidade que é uma das mais cosmopolitas da Europa. A propósito: se alguém lhe disser que Bruxelas é uma cidade sem graça, não acredite.

rosane.tremea@zerohora.com.br - ROSANE TREMEA