terça-feira, 24 de julho de 2018


23 DE JULHO DE 2018
CELSO LOUREIRO CHAVES

ÓPERA-ROCK

Ópera-rock não é ópera e nem é rock. Não é ópera pois não tem a dramaturgia da ópera, os moldes e as expectativas de uma história cantada do início ao fim.

Não é rock porque cada vez que alguém se propôs a compor uma coisa dessas acabou se afastando do rock-raiz para mergulhar de barriga na piscina da canção quadradinha. Mesmo assim, há quem queira encomendar óperas-rock ainda hoje, como se isso tivesse dignidade para comemorar revoluções de ontem.

O nome "ópera-rock" foi aplicado pela primeira vez - quase universalmente - a Tommy, do The Who, lá em 1969. Em dois vinis, Tommy contava uma história, mas com música para fora do estilo do The Who da época.

Tanto assim que, décadas depois, Tommy seguiu seu destino e se transformou em musical da Broadway. Mesmo assim, Tommy serviu de exemplo para quem quisesse fazer algo para além de uma faixa de vinil, e que logo chamava sua criação de "ópera-rock".

Bem depois, Roger Waters fez um dos espécimes mais pretensiosos da pretensa

ópera-rock: Ça Ira, sobre a Revolução Francesa. Isso foi em 2005 e já então ópera-rock era coisa de gente velha. Assim, Waters resolveu encarar a ópera autêntica e, de parceria com o compositor Julien Bilodeau, refez seu clássico The Wall com todos os requisitos da ópera ou, como disse alguém, extraindo do álbum do Pink Floyd a sua "alma operística". Another Brick in the Wall, que é como se chama agora, estreou ano passado no Canadá.

Até Roger Waters já desistiu da ópera-rock, mas nossos administradores não desistiram, num insulto ao bom senso. É o caso do edital aberto há pouco para uma ópera-rock sobre a Revolução Farroupilha, uma situação que tem poucos ângulos que não sejam ridículos. Ora, se fosse para homenagear os Farrapos em música, que fossem buscar uma ópera autêntica. 

E ela já existe! É Farrapos, de Roberto Eggers, de 1936, composta ainda a tempo de homenagear o chamado Centenário Farroupilha. Por antiga que seja, deve ser mais moderna do que essa ópera-rock de encomenda que, feita às pressas e fora de tempo, dificilmente soará menos do que constrangedora.

CELSO LOUREIRO CHAVES