sábado, 13 de janeiro de 2024


13 DE JANEIRO DE 2024
FLÁVIO TAVARES

OS ANOS INTERMINÁVEIS

Alguns anos não terminam em 31 de dezembro. O ano de 2013, por exemplo, ainda se arrasta tal qual serpente faminta, como naquela madrugada de 27 de janeiro, em que 242 jovens morreram e outros 636 ficaram com sequelas devido ao incêndio da boate Kiss, em Santa Maria. Basta relembrar o episódio para defini-lo como funesto, mas o horror vai além.

O crime permanece impune 10 anos depois, com o que tudo se agrava e leva até a descrer nas instituições da Justiça. Sim, pois não se tratou de um "acidente", mas de um crime que reuniu cobiça, desídia, truculência e desrespeito à própria condição humana. Para atrair público, a boate contratou uma banda que se exibia com fogo. Quando o incêndio começou, os "seguranças" impediram que os assistentes fugissem, alegando que "faltava pagar a conta". 0s cifrões valiam mais do que a vida?

Após minuciosa investigação policial, o Ministério Público atenuou o inquérito e dele retirou alguns dos aparentemente implicados. Logo, Santa Maria foi declarada sem condições psicossociais para julgar o crime, e o júri se fez em 2021 na capital do Estado.

O proprietário da boate Elissandro Spohr foi condenado a 22 anos e seis meses em regime fechado e seu sócio, Mauro Hoffmann, à pena de 19 anos. Dois membros da banda incendiária, Marcelo dos Santos e Luciano Leão, foram sentenciados a 18 anos.

O júri, porém, foi anulado por irregularidades meramente formais pelo Tribunal de Justiça. Em Brasília, o Tribunal Superior de Justiça confirmou a anulação. O novo júri está marcado para 26 de fevereiro deste 2024.

Se não houver novas protelações, irão se passar 11 anos para que se faça justiça - e não por vingança, mas unicamente para que o horror não se repita.

O ano de 2023 foi o mais quente já registrado, segundo concluíram os prestigiosos Observatório Copernicus e o Imperial College de Londres. A previsão é de que a crise climática se agrave em 2024 e, no ano seguinte, atinja seu ponto máximo, apenas 0,2ºC abaixo do que a ciência considera como fatal.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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