sábado, 27 de janeiro de 2024



Atualizada em 25/01/2024 - 12h18min
MONJA COEN

A razão de viver

O que faz você se levantar todas as manhãs? O que estimula você para a vida? Quem ou o que desperta sua alegria? Para quem ou para que se curva em reverência e respeito?

O portão de Shureimon, em Okinawa (Japão), onde a população é uma das mais longevas do mundo.

Há uma expressão japonesa, título inclusive de alguns livros e artigos em jornais e revistas, que significa dar vida à sua vida. Ikigai é essa expressão, composta de três caracteres japoneses ou kanjis, e pode ser traduzida como razão de viver, prazer na existência, força para sair da inércia.   

O que faz você se levantar todas as manhãs? O que faz você sair da cama, do sofá, da poltrona, da cadeira? O que anima, estimula você para a vida? Para quem ou para que você se levanta com alegria? Para quem ou para que você se curva em reverência e respeito?

Pesquisadores descobriram que a população de Okinawa, ao sul do Japão, é uma das mais longevas do mundo. Entre várias causas e condições, perceberam que em Okinawa as pessoas caminham bastante, ao invés de andar só de carros ou por transporte coletivo. Também se alimentam de produtos naturais, comem muitas verduras, arroz branco e peixes. Respeitam sua ancestralidade. 

Oram diariamente em seus altares familiares. Sentem gratidão e prazer na existência. Sentem vontade de viver, dar continuidade à vida que receberam de seus pais, e assim encontram razões para suas vidas nas coisas simples da rotina de trabalhar, cuidar da natureza, manter relações de amizade, encontrar tempo para o lazer e para os encontros familiares. 

Ikigai não significa ter posições sociais elevadas, reconhecimento público, comidas raras, lucro, fama, seguidores, lauréis. É estar presente no agora e apreciar o aqui.

Você já procurou alguma razão especial para a sua vida? Algum propósito? Algo estimulante? Você sente energia vital ao despertar? Vontade de descobrir o que poderá aprender hoje ou o que poderá fazer de benéfico este dia?  

Entre várias sugestões sobre desenvolver Ikigai, está a de ser útil ao mundo, escolher um trabalho, uma atividade para estar com outras pessoas, atender ao público, quer seja na saúde, na educação, na prestação de serviços, na segurança, no afeto, no cuidado. Auxiliar outras pessoas em sua busca por sentido, por propósito. Envolver-se com pessoas que criam ideias para melhorar o mundo e cuidar do planeta. Podem ser grupos pequenos, com ações locais e simples de hortas comunitárias e reciclagem, por exemplo.

No Zen Budismo, dizemos que quem desperta se torna um militante pelas causas da equidade social e respeito ambiental. Mestre Dogen Zenji Sama, fundador da ordem Zen Soto no Japão, nasceu no dia 26 de janeiro de 1200. Sua procura incessante pelo despertar da mente, pela iluminação, pela sabedoria, procurando mestres e filósofos em outros países, fez com que se empenhasse nas práticas severas do Zen. 

Já no século 13 ensinava seus discípulos a respeitar a natureza. Certa vez, à beira de um riacho límpido, retirou uma concha de água e bebeu a metade. A outra metade devolveu ao riacho como exemplo de respeito a água.

Construiu mosteiros, criou uma ordem religiosa no Japão que continua viva até hoje, com milhões de seguidores no mundo todo. Mestre Dogen considerava o Zazen, sentar-se em Zen, em meditação, como a forma mais eficaz de autoconhecimento. Como fazer com que todos pratiquem Zazen? Como fazer com que todos despertem e se tornem senhores e senhoras de si?

Ikigai não significa ter posições sociais elevadas, reconhecimento público, comidas raras, lucro, fama, seguidores, lauréis. É estar presente no agora e apreciar o aqui.

Uma grande pianista argentina, Martha Argerich, com mais de 80 anos, foi entrevistada por sua filha, recentemente: "Mãe, por que você nunca se importou em aceitar prêmios pelos seu trabalho?". Martha respondeu: "Prêmios se referem ao passado, ao que já foi e não sou mais. Vida é viver o presente".

Lembrei-me de um amigo que conheci em Los Angeles há mais de 40 anos. Quando perguntavam a ele qual a razão e sentido de viver, Walter Sheetz, de 86 anos, singelamente respondia: "O sentido da vida é viver".

Mãos em prece

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