quarta-feira, 24 de janeiro de 2024


24 DE JANEIRO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

O INTERESSE DA SOCIEDADE

Devem ir a fundo as apurações da Polícia Civil para esclarecer por completo as suspeitas de fraude licitatória e associação criminosa que cercam a aquisição de material didático e de literatura pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) da Capital. O caso, revelado em junho do ano passado pelo Grupo de Investigação (GDI) da RBS, teve um importante capítulo ontem, com a deflagração da Operação Capa Dura. 

Diversos mandados de busca e apreensão foram cumpridos e quatro prisões temporárias, efetuadas. Aguarda-se, da mesma forma, que todas as condutas individuais sejam esclarecidas e que as pessoas que, eventualmente, tiverem suas culpas comprovadas na Justiça sejam responsabilizadas pelos seus atos, após terem exercido amplo direito de defesa.

Precisa ser ressaltado que esse é mais um episódio a demonstrar a relevância do jornalismo investigativo e da imprensa profissional para a sociedade. Cumpre lembrar que foram os repórteres Adriana Irion e Carlos Rollsing os responsáveis por puxar o fio da meada desse caso rumoroso e que terá novos desdobramentos. 

As primeiras revelações indicavam um possível desperdício de verba pública com a aquisição, pela Smed, de chromebooks, materiais didáticos, de recreação e esportivos, mantidos armazenados em depósitos da prefeitura, sem serem distribuídos para as escolas. Ou seja, não estavam cumprindo os objetivos para os quais foram comprados com o dinheiro dos contribuintes.

Após a divulgação da informação, a prefeitura se apressou para corrigir a distribuição e fazer com que os materiais chegassem aos alunos. Se toda a história se limitasse a esse ponto, já teria sido um serviço importante prestado pelo jornalismo, ao ajudar a corrigir uma falha do poder público. Mas foi sendo constatado ao longo das semanas e meses seguintes que não se tratava apenas de um problema de inépcia e "de logística", como chegaram a defender membros da administração municipal.

Ao longo do tempo, os indícios de irregularidades e direcionamento das aquisições para um determinado grupo econômico foram se fortalecendo. Ministério Público (MP), Polícia Civil e Tribunal de Contas do Estado (TCE) também se debruçaram sobre os pontos de sombra do caso. Duas CPIs foram abertas na Câmara de Vereadores da Capital, mas a articulação governista trabalhou para minimizar as conclusões e as repercussões.

A população paga impostos esperando que os recursos recolhidos sejam bem aplicados, com ganhos para a coletividade.

Uma das principais tarefas da imprensa é estar atenta aos atos do poder público, em nome dos interesses da sociedade. Há pautas com maior grau de complexidade, intrincadas. Requerem um trabalho ainda mais acurado e persistente. Aí entra o valor do jornalismo investigativo, que exige dose extra de tenacidade e preparo dos profissionais. Demanda ainda convicção das empresas de comunicação em relação à necessidade de investir recursos e tempo para a apuração ser bem conduzida, com correção e técnica, gerando consequências.

Publicar uma denúncia, portanto, não é o objetivo em si de uma investigação jornalística. O propósito, ao final, é corrigir distorções e trazer benefícios à sociedade. É algo ainda mais relevante quando estão em jogo verbas usadas em serviços essenciais, como a educação, uma área desafiada a ter seu desempenho melhorado em todo o país. A Capital não é exceção.

OPINIÃO DA RBS

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