sábado, 20 de janeiro de 2024


20/01/2024 - 09h00min
Martha Medeiros

Sucumbimos à vulgaridade de uma forma vergonhosa

Nada existe além deste momento imediato, a não ser você em construção. Não perca a chance de ser alguém mais atraente, em qualquer idade.

Sucumbimos à vulgaridade de uma forma vergonhosa. Enviamos e-mails ofensivos para redações de jornais e insultamos desconhecidos nas redes. Exibimos nossa desinformação ao utilizar frases feitas que copiamos de pessoas que também não se informam direito. 

É um avanço quando o povo de um país se interessa mais por política, mas nossa reputação anda ameaçada pela quantidade de mentiras e bobagens que ajudamos a difundir: hora de refletir e escolher melhor a quem odiar, já que o ódio é um vínculo profundo, convém não desperdiçar com estranhos.

O inimigo está sob nosso teto. Dormimos com ele, e acordamos também – assim que abrimos os olhos, pegamos o celular para ver que horas são e então descobrimos que durante a madrugada entraram 38 mensagens de insones e de amigos que moram em outro fuso horário, e o teor é a velha conversa requentada, nada que mudará nossa vida, ao contrário dos livros que estão ganhando poeira na estante e que, se forem abertos, resgatarão para a sociedade uma pessoa muito mais interessante – você, quem mais?

Claro, responda às mensagens de WhatsApp, não seja mal-educado. Mas, antes, abra a cortina, tome água, faça exercícios físicos, tome água de novo. E corra, vi sua alma escapando para aquele lado.

Tonifique os músculos, pois guerra se ganha também pelo vigor, mas o combate mais urgente tem que ser contra o vazio, que se não for preenchido a tempo, vai deixar de herança uma velhice insuportável. Ocupe-se com filosofia, poesia e silêncio. O silêncio cala todas as fofocas e insignificâncias que nos rodeiam. Medite. Possua-se. Não perca a chance de ser alguém mais atraente, em qualquer idade.

Odeie em você a procrastinação demasiada, aquela que começou como preguiça e se tornou autoboicote. Expanda esse coração romantizado, que só se dedica a histórias privativas de amor, enquanto ignora o amor por toda a humanidade. Seja um hater da sua própria arrogância e frivolidade. Pode-se encontrar alegria dentro de cálices de espumante e na pista de dança, mas a plenitude é menos alegórica, buscá-la é a tarefa inconclusa de uma vida toda, a verdadeira sofisticação. Discreta, a plenitude pode estar aí mesmo, neste agora, enquanto seu café esfria.

Nada existe além deste momento imediato, a não ser você em construção. Declare guerra à vaidade de se expor como um produto acabado e não mendigue por aprovação alheia – glória e sucesso são conquistas íntimas, medidas por dentro. É difícil recusar os apelos da exposição pública, mas não leve o espalhafato tão a sério, ou o ego lhe dará uma rasteira.

Que seus inimigos se digladiem lá fora, enquanto você lê mais, aprende, pondera. Se precisa mesmo odiar alguma coisa, então odeie o que afasta você de você mesmo.

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