sexta-feira, 26 de janeiro de 2024


26 DE JANEIRO DE 2024
CARPINEJAR

O avanço da dengue

Já não é mais exclusividade das crianças portar a carteira nacional de vacinação. Os adultos precisam se preocupar em preencher os quadradinhos das suas vacinas. Além das protetivas da covid-19, necessitam manter no seu horizonte a prevenção de sarampo, de caxumba, de rubéola, de hepatite B, de febre amarela, de difteria e de tétano.

Cuidados antes infantis já não se restringem à idade para acontecer. Pode acrescentar agora a vacina da dengue para a lista. É questão de alguns meses para se tornar obrigatória. Logo será disponibilizada pelo SUS, a partir de produção japonesa do imunizante Qdenga.

Trata-se de uma vacina tetravalente, administrada em duas doses, com espaço de três meses entre elas. Protege contra os quatro sorotipos do vírus da dengue: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.

As mudanças climáticas vêm aumentando assustadoramente os casos de dengue no Rio Grande do Sul. Já não são mais exceções. O ciclo sucessivo de chuvas e o aumento da temperatura transformaram o nosso Estado em hábitat ideal para o mosquito Aedes aegypti.

A doença, que surgia como turista no verão, passou a ser frequente em todas as nossas estações, inclusive com reprodução do inseto nos mais diferentes períodos. Devemos redobrar os cuidados domésticos com vasos parados e entulhos, onde o ovo vira larva, pupa e, depois, transmissor.

A falta de abastecimento de água também contribui para a disseminação da enfermidade, já que os moradores recorrem ao armazenamento em temerários contêineres, reservatórios e cisternas. Quem dera que o aumento fosse de 100%, ainda seria um número otimista. Aqui, o aumento é de quase 1000% de vítimas. Para ser exato, 1.044% nas primeiras três semanas de 2024 em comparação ao início do ano passado.

Saltamos de 63 pacientes para 721 pessoas atingidas, despertando o sinal de alerta com a possível lotação sumária de hospitais. Estão no ar fortes indícios de epidemia, uma vez que a proliferação não tem como ser contida apenas com a visita de fiscais sanitários como nos anos anteriores.

Tampouco dá para contar com a loteria de sintomas leves. A multiplicação do vírus no sangue provoca inflamação nos vasos sanguíneos, o que retarda a circulação do sangue e o deixa mais espesso. Há riscos fatais de coagulação e trombose.

A dengue transforma qualquer atleta em fiapo humano, causando dores constantes nos músculos, olhos, costas, abdômen e ossos. As articulações rangem. O apetite desaparece. A fadiga e a febre, com o suor frio e o tremor, recebem a companhia de manchas avermelhadas.

O Ministério da Saúde divulgou ontem a lista de cidades que vão receber a vacina contra a dengue. Ao todo, foram incluídos cerca de 500 municípios em 16 Estados - com mais de 100 mil habitantes e alto volume de casos de dengue tipo 2 - para a imunização na faixa etária de 10 a 14 anos, a partir de fevereiro.

A má notícia é que não há nenhuma cidade gaúcha contemplada no primeiro lote. Cidades menores que apresentam alta taxa de incidência - como Tenente Portela, com um caso a cada 69 habitantes - ficaram de fora.

Mesmo o Brasil sendo o primeiro país no mundo a oferecer o imunizante na rede pública, existe uma limitação de quantidade de vacina, só disponível para 1,5% da população. Temos, até o momento, pouco mais de 6 milhões de doses - 5,2 milhões foram compradas do laboratório Takeda e 1,3 milhões, doadas.

Temo que o combate esteja começando tarde, temo que a reposição demore.

CARPINEJAR

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