sábado, 22 de setembro de 2012



23 de setembro de 2012 | N° 17201
VERISSIMO

Democracia

A família estava dividida. Metade achava que o primo Osvaldo estava fazendo um papelão, concorrendo a vereador com aquele slogan, Osvaldo baixa o pau e aparecendo na televisão com cara de mau. Logo o Osvaldo da tia Margarida, um doce de pessoa.

– Vexame – era a opinião de alguns.

Já outros achavam que o Osvaldo tinha todo o direito de entrar na política e se apresentar daquele jeito. Cara de mau, braços cruzados, dizendo: “Comigo, corrupto vai se dar mal. Osvaldo baixa o pau”. Atraía voto.

– É ridículo. – Então democracia é ridículo?

– E isso é democracia? – É.

Os que achavam que o Osvaldo estava envergonhando a família argumentavam que ele, inclusive, estava mentindo. Nunca fora de briga. Nunca baixara o pau em ninguém. Era um doce de pessoa.

– E vocês queriam que o slogan dele fosse esse, “Osvaldo, um doce de pessoa”?

Um dia o Marcelinho chegou da escola eufórico. Tinha se transformado num herói da turma, depois da descoberta de que era parente do Osvaldo. Ficara encarregado de pedir autógrafos do Osvaldo para todo o mundo. De preferência santinhos do Osvaldo de braços cruzados e cara de mau autografados.

Marcelinho se esforçava para promover a imagem do primo. Ele era mesmo de baixar o pau?

– Uma fera – confirmava o Marcelinho.

As discussões sobre o Osvaldo era intermináveis.

– Esses candidatos folclóricos, sem nenhuma condição para serem políticos, desmoralizam a democracia, isto sim.

– Vocês é que são elitistas. Não querem democracia, querem ser governados por uma aristocracia. Tem horror do povão.

– E desde quando o Osvaldo é povão? Vive da pensão da tia Margarida. Nunca fez nada na vida.

– E quem garante que a vocação dele não é para a política? Pode ser uma revelação.

– Então vocês acreditam que ele vai baixar o pau como diz?

– Quem sabe? Quem sabe?

Faltava o velho Tobias dar a sua opinião. O patriarca raramente se manifestava, à mesa. Mas desta vez falou. Lembrou que o Osvaldo, mesmo que não combatesse os corruptos, poderia ajudar a família.

Como vereador, depois – quem sabe? – como deputado, poderia dar uma mãozinha na questão daquele terreno contestado cujo processo se arrastava por tantos anos. Influenciando autoridades e, em vez de baixando o pau, mexendo os pauzinhos certos. De qualquer maneira, seria bom ter um politico representando os interesses da família.

– Afinal – disse o velho Tobias – democracia é isso.