quinta-feira, 27 de setembro de 2012


Kenneth Maxwell

Novo tremor de Lisboa

Por oito horas na sexta-feira, o Conselho de Estado português debateu as propostas de austeridade do governo, com a presença do presidente Aníbal Cavaco Silva.

Uma semana antes, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas para expressar oposição às medidas do governo, que ameaça elevar a contribuição previdenciária dos trabalhadores de 11% para 18% dos salários, reduzindo a contribuição das empresas de 24% para 18%.

O Conselho de Estado se viu sitiado pelos manifestantes em Lisboa, e o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho prometeu uma renegociação com os sindicatos e os empregadores.

Diferentes de espanhóis ou gregos, os portugueses demoraram a reagir às consequências econômicas do acordo de resgate fechado no ano passado com a União Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu.

Mas o desemprego atingiu 15,7% no país em julho. A economia portuguesa se contraiu em mais de 3%. Ficou evidente que a população foi submetida a pressão forte demais. O amplo consenso político que existia quanto à política econômica se desfez, causando severo desgaste na coalizão de centro-direita.

Os portugueses ainda precisam reduzir seu Orçamento em bilhões de euros. O governo propõe novos cortes nos subsídios, e os sindicatos sugerem impostos mais altos para as empresas e sobre os dividendos dos grandes acionistas.

É tudo bem diferente da situação econômica de Angola, uma antiga colônia portuguesa rica em petróleo, ou, aliás, do Brasil. Angolanos ricos estão adquirindo imó-veis de luxo em Lisboa, e a Embraer fechou um contrato para a produção de componentes para seus novos jatos executivos Legacy 450 e 500 em Portugal.

A economia angolana cresceu a uma média de 15% ao ano entre 2002 e 2008, e o investimento brasileiro em Angola subiu em 20 vezes no período. Mais de 100 mil portugueses trabalham em Angola, hoje. Muitos se transferiram para o Brasil. Brasileiros estão adquirindo porções lucrativas dos ativos portugueses privatizados.

Seria demais esperar que os novos ricos brasileiros e angolanos fossem populares em Portugal. Para piorar as coisas, um terremoto de magnitude 3,6 na escala Richter atingiu Ourique, no sul da província de Alentejo, nesta semana.

Ourique é o local em que Afonso Henriques derrotou os mouros almorávidas comandados por Ali ibn Yusuf, em 1139, e foi proclamado primeiro rei de Portugal. A vitória foi atribuída a são Tiago. Tudo o que falta acontecer agora é um novo terremoto em Lisboa.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta