ELIANE
CANTANHÊDE
Novo e conservador
BRASÍLIA - Lula e os marqueteiros
do PT, do PSDB e do PMDB miraram no que viram e acertaram no que não viram.
Detectaram bem o que o eleitor queria e ajustaram perfis e discursos à demanda,
mas não previram que o beneficiário seria outro, correndo por fora: Celso
Russomanno.
Lendo Mauro Paulino e Alessandro
Janoni, do Datafolha, fica bastante claro que o eleitor queria o
"novo", como se apresentam Fernando Haddad e Gabriel Chalita, mas
tende ao conservadorismo, do qual José Serra insiste em se aproximar.
Porém Haddad não pode fingir (até
porque não convenceria) que é conservador, nem há skate (ou jogo de futebol)
que faça Serra voltar no tempo e passar por "novo".
É Russomanno quem une as duas
"qualidades" no imaginário popular, sobretudo do eleitor menos
escolarizado. Consegue somar Haddad e Serra e representar a curiosa figura do
"novo conservador".
Nessa reta final da campanha,
Serra, Haddad e Chalita devem mirar em Russomanno, tentando mostrar que ele nem
é tão novo assim e cobrando compromissos objetivos para a cidade, para além de
conceitos e imagens subjetivas.
Serra e Haddad, no entanto, não
podem descuidar um do outro e ambos têm dois desafios a mais.
No PT, um é tentar enfrentar o
julgamento do mensalão pelo STF com a velha tática da vitimização e da denúncia
vazia do golpismo. O outro é compensar o padrinho Lula, que não está dando pro
gasto, pressionando pela desistência branca de aliados -incluindo Chalita- em
favor de Haddad. Falta, literalmente, combinar com os adversários.
No PSDB, um desafio é disfarçar a
fadiga de material, depois de tantos anos administrando o Estado, e o outro,
tentar amenizar o peso da renúncia de Serra, que brindou São Paulo com o nada
popular Gilberto Kassab.
Tantos desafios só fazem
favorecer Russomanno ainda mais.
elianec@uol.com.br