CARLOS HEITOR
CONY
Varões e matronas
RIO DE JANEIRO - Quando nasci, e
antes mesmo do meu nascimento, havia uma verdade consagrada pelo tempo e pelos
sábios: "Nada de novo sob o sol".
O processo que corre (em marcha
lenta, mas corre) no Supremo Tribunal Federal sobre o mensalão,
independentemente de sua conclusão, já escancarou um subproduto que não precisa
de confirmação judicial.
Desde que o mundo é mundo, em
baixo, em cima ou ao lado do sol, a corrupção em suas várias modalidades está
entranhada na própria natureza humana.
"Todo homem tem o seu
preço" -proclamou o político gaúcho Assis Brasil, antes do acordo de
Pedras Altas, nos meados dos anos 20 do século passado. Foi um escândalo, as
coisas no Rio Grande do Sul pegavam fogo, chimangos e maragatos se degolavam, e
um personagem importante do cenário local afiançava que todo homem tem o seu
preço.
Bem verdade que logo declarou por
quanto se venderia. Procurado por Batista Luzardo para ingressar num movimento
contra o governador gaúcho que se perpetuava no poder, Assis Brasil nada pediu
ao Marcos Valério, ao Delúbio, ao Banco Rural. "O meu preço é
Representação e Justiça!"
Bem, tratava-se, segundo um
historiador, de um varão de Plutarco -havia alguns na velha república.
E havia também o equivalente
feminino, a matrona de Éfeso, viúva que velava junto ao corpo do marido morto e
cuja honestidade foi cantada por Petrônio. Vinha gente de fora contemplar e
admirar aquela rocha de virtude. Contudo ela também tinha o seu preço e, por
amor, se entregou a um soldado.
O que pode haver entre um varão
de Plutarco, uma matrona de Éfeso e o mensalão? Não havendo nada de novo sob o
sol, deixo a resposta a cargo do ministro Joaquim Barbosa. Varões e matronas
ainda existem?