sexta-feira, 28 de setembro de 2012



Campanha política

O Mario Quintana, sempre ele, definitivo, escreveu que não existe nada mais encantador do que esses sorrisos de candidato. Ele foi candidato à Academia Brasileira de Letras e, apesar dos seus sorrisos e dos seus versos que estão cada vez melhores, tipo a voz do Carlos Gardel, não foi eleito.

Pior para a Academia, que saiu perdendo feio. Melhor para nós, que ganhamos os famosos versos: todos esses que aí estão / atravancando meu caminho/ eles passarão / eu passarinho. Pensando bem, ter sido barrado na ABL até deu um upgrade no currículo do poeta. Ele nem precisava, está para sempre na boca e no coração do povo, nas ruas, nos muros e nas praças, os melhores lugares para um Homem de Letras.

Mas falando em sorrisos e campanhas, hoje assisti ao programa eleitoral da TV. Assisti todo, pois sou democrático. Cores claras, cenários coloridos, sorrisos, muitas, muitas emoções, muitas promessas e ótimo mercado para roteiristas, publicitários, redatores, cabeleireiros, maquiadores e pessoas de marketing. Trilha sonora caprichada, improvisos bem decorados e papos motivacionais até me comoveram um pouco, enquanto eu fazia ginástica na esteira.

Sei lá, no fundo, apesar de tudo e das minhas décadas de existência, me recuso a não acreditar, de todo, na política e nos políticos. Não tenho mais o otimismo e o vigor dos meus trinta anos, quando fui para a praça berrar pelas Diretas Já! Mas ainda procuro fazer bater um coração de estudante lá no fundo do peito e tenho esperanças de que, no fim, dá tudo certo.

Se não deu é porque não chegou ao fim, como dizia o outro. Não gosto de pensar que política é apenas arte do possível, negócio, teatrão e não sei mais o quê. Não gosto de pensar, apenas, como o outro, que a gente troca os políticos pela mesma razão que troca as fraldas de um bebê. Estamos todos juntos, misturados, tentando as melhores escolhas e procurando seguir os melhores caminhos.

Claro que é complicado, que o mundo está cada vez mais doido, que a gente vai envelhecendo. Pois é, sempre é bom lembrar que a alternativa para não ir adiante e envelhecer é bem pior. Ninguém quer a morte, só saúde e sorte, como diz a canção. Sorte e saúde para nós, todos, eleitores e candidatos. Sorte, saúde, segurança e educação.

Acho que nunca precisamos tanto de sorte. Não há de faltar, né? Nem penso e muito menos escrevo a palavrinha aquela que significa o contrário de sorte. E tomara que a morte morra. De morte morrida e matada, para sempre.
(Jaime Cimenti)