quarta-feira, 24 de setembro de 2014


24 de setembro de 2014 | N° 17932
EDITORIAL ZH

CONTA DE CHEGADA

O país só chegou a esse impasse entre a estagnação e a recessão, às voltas com malabarismos fiscais, porque optou por medidas cosméticas, quando deveria ter apostado em reformas estruturais.

A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, estimada no início do ano em 2,5% e já considerada baixa para as necessidades do país, acabou sendo revista para 1,8% e, agora, caiu pela metade, reduzindo-se a um modesto percentual de 0,9%. O resultado, frustrante, não é obra do Pessimildo, personagem da candidata à reeleição Dilma Rousseff, mas consequência direta da incapacidade da política econômica do governo de associar inflação baixa com níveis razoáveis de expansão do setor produtivo. 

E, o que é mais preocupante, a projeção é vista como superestimada pelo mercado financeiro, que projeta uma expansão de apenas 0,3% de crescimento até dezembro. O mau resultado, na reta final da campanha eleitoral, forçou o Ministério da Fazenda a recorrer a uma série de manobras pirotécnicas para fechar as contas, o que significa sempre um custo elevado para todos os brasileiros mais à frente.

Como a economia cresce menos do que as necessidades do país, as consequências não se restringem aos temores sobre o que vai ocorrer com os níveis de consumo, com a produção industrial, com o emprego e com a renda. Os equívocos da política econômica levaram a uma redução considerável das receitas públicas.

Como tem que cumprir metas, o governo federal voltou a se valer de recursos do Fundo Soberano do Brasil, criado para ajudar em situações de emergência. E, entre outras manobras, ainda precisou recorrer ao lucro de empresas estatais, o que na prática tende a prejudicar investimentos em áreas importantes, que dependem do poder público, como é o caso do setor energético.

Um país das dimensões do Brasil não tem o direito de errar até mesmo numa conta de chegada, ao superestimar receitas com base em uma expansão da atividade produtiva que não se confirmou na prática. Também não tem mais como insistir na argumentação de que o problema se deve a uma crise global, pois muitas economias de países industrializados ou emergentes vêm se expandindo em percentuais bem mais expressivos do que o brasileiro.


O país só chegou a esse impasse entre a estagnação e a recessão, às voltas com malabarismos fiscais, porque optou por medidas cosméticas, quando deveria ter apostado em reformas estruturais. Agora, resta a quem estiver no comando a partir de 2015 se esforçar ao menos para reduzir o impacto de ajustes inadiáveis para os contribuintes.