sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Jaime Cimenti

Escravatura, liberdade e ilusão no Novo Mundo

O império da necessidade - Escravatura, liberdade e ilusão no Novo Mundo (Editora Rocco, 400 páginas, R$ 49,50, tradução de Ana Deiró), do professor e escritor norte-americano Greg Grandin, mostra o complexo e surpreendente comércio transatlântico de escravos, que transportou mais de dez milhões de africanos para as Américas. Greg é professor do Departamento de História da Universidade de Nova Iorque e um dos maiores especialistas em história da América Central.

Certa manhã de 1805, navegando pelo Pacífico, o caçador de focas da Nova Inglaterra Amasa Delano cruzou com um navio espanhol em dificuldades. Ao subir na embarcação, encontrou 72 africanos, entre homens, mulheres e crianças, que pareciam ser escravos.

Só pareciam. Na verdade, eles tinham matado a maioria da tripulação e assumido o controle da embarcação. Essa história incrível, que serviu de inspiração para Benito Sereno, obra-prima do genial Herman Melville, é o ponto de partida que Greg utilizou para uma investigação ampla e profunda sobre escravidão e liberdade nas Américas. A liberdade almejada pelos comerciantes também era justamente a liberdade de comprar e vender africanos cativos como bens, abastecendo os mercados das Américas.

Na sua obra, Greg mostra como o notório encontro de Delano com o espanhol Benito Cerreño e os africanos Babo e Mori numa embarcação à deriva no Atlântico Sul expõe um fascinante conflito de civilizações, num contexto de febre de comércio de escravos. Bem como disse Melville sobre um mundo que estava em plena revolução: “buscando conquistar uma liberdade maior, o homem apenas amplia o império da necessidade”.  Enfim, apoiado em intensa e rigorosa pesquisa, Greg Grandin reconstrói minuciosamente um cotidiano que vai muito além dos estereótipos e do senso comum sobre a escravidão.


O livro também mostra uma geração de homens do mar que estavam informalmente colonizando as ilhas da América do Sul. Greg, autor do best-seller Fordlândia, já publicado no Brasil pela Editora Rocco, também escreveu The Last colonial massacre, Blood of Guatemala e Empire´s Workshop, além de colaborar regularmente com os jornais Los Angeles Times, The Nation, The New Statesman e The New York Times.