quinta-feira, 15 de dezembro de 2016



15 de dezembro de 2016 | N° 18715
ARTIGO | MARCELO MONTEIRO

PELA PROFISSIONALIZAÇÃO DO CRIME, por MARCELO MONTEIRO*
(Aviso: contém ironia.)


Todos os dias, cidadãos são mortos por bandidos despreparados, seja pelo uso de drogas ou pelo nervosismo dos novatos. Inexperientes ou alterados, eles enxergam uma arma na mão que lhes estende a carteira ou o celular. Ou interpretam gestos como abrir a porta do carro ou pegar a bolsa como ameaças e atiram, mutilando famílias com crimes que em tese seriam banais – afinal, estamos no Brasil –, mas que saíram do controle.

Essa carnificina pode ser evitada com a criação da Associação dos Assaltantes, Ladrões e Trombadinhas (Assaltro). A entidade se empenharia na profissionalização do crime. Treinados e orientados, seus membros agiriam de forma tranquila, o que evitaria mortes e aumentaria sua produtividade – não seria preciso fugir como um assassino, apenas correr como um ladrão.

Pensem nisso antes de pegarem seus revólveres e canivetes e saírem pelas ruas a aterrorizar cidadãos comuns: quando um assalto transforma-se em latrocínio (roubo com morte), a coisa muda de figura. Em geral, assaltantes e ladrões de DVDs automotivos, quando capturados – o que raramente acontece – deixam a delegacia junto (às vezes, antes) com as vítimas. 

Isto porque o sistema penitenciário não tem onde alocar nem os bandidos contumazes, capturados dezenas de vezes sem nunca porem os pés na cadeia. Estes são, via de regra, liberados depois de um depoimento, de um chá de banco ou de horas algemados a uma lixeira, como se viu em Porto Alegre. Já os matadores são caçados e julgados de forma contundente. Para que correr risco? Roubar sem matar é mais “seguro”.

Outra sugestão: por que os assaltantes não se espelham nos traficantes, categoria mais organizada e lucrativa? (Aliás, muitos dos roubos são executados para o pagamento de dívidas com o tráfico.) Só a maior organização criminosa brasileira arrecada R$ 200 milhões anuais com a venda de cocaína.

Com menos agressividade e mais organização, ladrões comuns podem ampliar seus ganhos. Em vez de atacarem inocentes nas calçadas ou nas sinaleiras, os pequenos empreendedores do crime podem realizar ações mais arrojadas e lucrativas, com maior produtividade e maiores ganhos em um dia extenuante de “trabalho”.

PS: Este texto é um agradecimento à dupla que assaltou a mim e a outras cinco pessoas sem precisar atirar em ninguém. Um exemplo para a categoria.

*Repórter de Zero Hora