terça-feira, 15 de janeiro de 2019


15 DE JANEIRO DE 2019
CARPINEJAR

Trabalho em grupo


Meu primeiro grande conflito ético foi na escola. Quando a professora de geografia pediu para fazermos trabalho em grupo. Estava na terceira série. Até aquele momento, todos os trabalhos eram individuais.

- Com os seus colegas ao lado, monte um grupo de até quatro alunos! Tímido, teria que forçar a amizade. Dividi o conteúdo para cada um pesquisar em casa. Juntaríamos as partes depois e entregaríamos o conjunto.

Na teoria, a partilha de responsabilidades transcorreu sem traumas. O impasse apareceu no dia seguinte, quando um dos participantes simplesmente não realizou a sua missão. Esqueceu, não levou a sério, fez corpo mole, ou a soma das hipóteses. Obriguei-me a estender as minhas obrigações e correr contra o tempo para salvar a nota.

Só que surgiu um duro conflito na hora: colocava o nome do colega omisso no trabalho ou não? Houve uma camaradagem na decisão e os demais concordaram que não deveríamos sacrificar ninguém. Mas era uma falsa solidariedade. Ele seguiria não cumprindo, séries afora, as suas tarefas e receberia o mesmo conceito de quem tinha realmente se esforçado.

A injustiça, em escala menor e simbólica, passou a correr em nossas veias e a envenenar o sangue.

Ele se esbaldou em nossos ombros no decorrer dos anos. Sempre surgia com uma justificação estapafúrdia. Nem mentia direito, alegava qualquer coisa, prevendo que acabaria beneficiado de novo.

Por mais pesada que seja a expressão, significou uma corrupção. Uma corrupção infantil.

Não ajudávamos o nosso colega acobertando a sua preguiça. Não colaborávamos para que ele aprendesse e experimentasse o gosto da responsabilidade.

Com medo das consequências da delação, com receio de represálias, permitimos o surgimento de um monstro da malandragem em sala de aula, privilegiamos o jeitinho, incentivamos o favor em troca da simpatia.

Deveria ter comprado briga, perdido amigos em nome dos meus princípios. Por carência e despreparo, facilitei distorcidos atalhos para os outros.

Não nos damos conta de que os graves erros educacionais emergem dessas banalidades ingênuas. Da incapacidade, desde cedo, do estudante de falar a verdade e reivindicar deveres iguais a todos.

CARPINEJAR

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