terça-feira, 15 de janeiro de 2019



15 DE JANEIRO DE 2019
DAVID COIMBRA

Eu petista

Agora sou chamado de petralha. Agora querem me mandar para Cuba. Ei, petistas que brigaram comigo, como é que vocês não vêm aqui me escudar? Tudo bem, estou brincando. Podem me deixar sozinho na defesa do forte. Os índios estão cada vez mais perto, dê-lhe flechada, dê-lhe machadada, e não desisto. Combaterei o bom combate, como fez São Paulo.

Mas, falando sério, a questão é que parece que estamos em movimento, quando, na verdade, todo esse esperneio só nos faz afundar mais na areia movediça.

Vou usar a linguagem do futebol, para ser melhor compreendido. Em 1997, o Inter estava mal, o Grêmio tinha um supertime montado pelo Felipão e ganhava todos os campeonatos possíveis. O então técnico do Inter, Celso Roth, periclitava no cargo, tudo indicava que seria mandado embora. Aí o vice de futebol, Ibsen Pinheiro, anunciou:

- Vamos mudar não mudando: Celso Roth fica.

E não é que deu certo? O Inter montou um bom time, com Christian e Fabiano no ataque, Gamarra e Lúcio na defesa e Arilson no meio, e foi campeão gaúcho.

Hoje, com o Brasil, ocorre o contrário: o Brasil não mudou mudando. Os novos governantes prometeram administrar o país "sem ideologia". Será que isso é possível, tratando-se de política? Talvez não, mas entendo o que Bolsonaro queria dizer, quando assim falava. Queria dizer que o mais importante seria a capacidade profissional do funcionário público, e não a sua crença ideológica.

Só que, nessas primeiras semanas, o governo e seus apoiadores parecem obcecados por crenças ideológicas. Chegou-se a anunciar a "despetização" da administração e vários servidores foram demitidos. Nas redes sociais, onde borbulha o bolsonarismo, qualquer crítica ao governo é classificada como petismo arraigado. E, no fim de semana, muitos festejaram a prisão de Cesare Battisti, mas duvido que realmente saibam quem é e o que fez esse personagem. Por que, então, festejaram sua prisão? Simples: porque o PT queria sua liberdade. Qual é o motivo dessa fixação no PT?

O Brasil não está se afastando das ideologias; está trocando de ideologias.

Na economia, o Brasil vai melhorar, está melhorando desde o ano passado. Paulo Guedes tem boas ideias. Se conseguir implementá-las, o país pode ficar mais funcional. Na segurança pública, Moro terá a missão mais difícil de um governo, desde que o Plano Real derrubou a inflação. Mas ele conhece a área, pode ser que consiga algum avanço. Nos demais setores, porém, o que se vê é um governo errático, e não é por acaso que esses são os setores mais ideológicos. Em muitos pontos, não há convicções, o governo faz recuos de acordo com a repercussão ao anúncio das medidas. Quando há convicção, é pior. As propostas são obscurantistas, as ideias são sombrias, a impressão é de que alguns ministros ficaram congelados em 1950.

Pode-se argumentar que grande parte do Brasil é assim mesmo, que as almas de tantos brasileiros foram abrutalhadas pela violência, pela inaptidão do Estado, pelo sofrimento dos dias. Não deixa de ser verdade. Mas um governo nem sempre tem de se render ao que é popular. O governo esclarecido, muitas vezes, há de mostrar ao povo o que o povo realmente quer.

Bolsonaro já ganhou a eleição, o PT já foi derrotado, é preciso esquecer o PT e pensar no Brasil. É hora de o governo governar o país.

DAVID COIMBRA

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